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sábado, 5 de setembro de 2009

Os balões do Padre Carli

O padre católico Adelir Antônio de Carli foi protagonista, e vítima, de um dos mais bizarros acidentes já ocorridos no Brasil. O padre era um ativista político, quando estava na Diocese de Paranaguá, no Paraná, tendo se destacado na defesa dos moradores de rua daquela cidade contra a violação dos direitos humanos supostamente perpetrada por agentes de segurança pública. Suas denúncias tiveram algum êxito, resultando em prisões de alguns agentes e até do Secretário Municipal de Segurança Pública.
As atividades políticas do Padre Adelir de Carli, entretanto, eram quase totalmente ignoradas fora dos limites do Município de Paranaguá. Carli, portanto, resolveu fazer uma aventura para tornar essas ações mais conhecidas, alguma coisa espetacular que realmente chamasse a atenção da opinião pública para suas ações.

O Padre Carli tinha um envolvimento com esportes aéreos havia tempos. Em 2005, entrou na escola de voo livre Vento Norte, de Curitiba. Esportes aéreos costumam oferecer um certo risco, minimizados em grande parte pela disciplina, padronização e planejamento das atividades. O Padre Carli, porém, demonstrou ter o perfil exatamente oposto de um bom aviador: segundo seu instrutor de parapente, não se interessava pelas aulas teóricas, era indisciplinado e exibicionista, características comuns e muito perigosas no aerodesporto.

As aventuras do Padre Carli nos parapentes acabaram em um acidente, no Morro do Boi, em Caiobá, balneário vizinho a Paranaguá. O padre desobedeceu as orientações do instrutor e acabou pegando uma corrente de ar ascendente do lado errado do morro, chocando-se com o mesmo. Não se machucou seriamente, mas o instrutor, muito irritado, acabou expulsando Carli do curso, por considerar que o mesmo não tinha condições de voar com segurança, expondo-se a situações de grande perigo de modo consciente. Tinha apenas 10 horas práticas de voo e quatro aulas teóricas quando saiu do curso.

O padre acabou se envolvendo então em uma atividade aérea que não tem nenhuma regulamentação no Brasil, o voo em balões de hélio, semelhantes aos balões usados por crianças em festas e feiras. Embora essa modalidade de voo tenha adeptos em vários países, não é reconhecida como aerodesporto pelas autoridades. No Brasil, essa prática era totalmente ignorada das autoridades até o acidente do Padre Carli.

O Padre Carli já tinha comentado com o seu instrutor de parapente sua idéia de fazer um voo em balões de hélio de Paranaguá ao interior do Brasil. O instrutor, grande conhecedor dos ventos predominantes no litoral, afirmou que qualquer decolagem de Paranaguá em balão livre iria acabar, provavelmente, em um pouso na África, do outro lado do Atlântico. O padre insistiu, dizendo que já tinha planejado tudo. O instrutor pensou que o padre estava brincando e não deu muita importância ao fato.

O Padre Carli não estava brincando. Pior: se há alguma coisa que o padre deveria fazer, e não fez, foi planejamento. Carli conseguiu arregimentar uma equipe de apoio para uma aventura destinada a chamar a atenção para suas atividades políticas em prol dos moradores de rua de Paranaguá: pretendia bater o recorde de permanência no ar em pequenos balões de hélio, indo de Paranaguá até Dourados, no Mato Grosso do Sul.

A falta de planejamento do voo manifestou-se poucos minutos após a decolagem em Paranaguá, em 20 de abril de 2008. As condições meteorológicas eram ruins, com a presença de nuvens nimbus-stratus, uma frente fria ativa e ventos em direção ao Atlântico. O padre e sua "aeronave" improvisada foram em direção sudeste logo após decolar, para o litoral norte do Estado de Santa Catarina.
O padre entrou em contato com sua equipe de terra e controladores de voo por meio de um telefone celular, afirmando que estava fora da rota, mas que estava bem e subindo. Alguns estimam que tenha voado acima de 15 mil pés, onde corria o risco de hipotermia e hipóxia. Carli demonstrou claramente seu despreparo ao planejar o voo, ao pedir para a equipe instruções de como operar o GPS, pois não conseguia sequer saber onde estava exatamente.

Depois de perder contato, o Padre Carli foi declarado desaparecido, a FAB e a Marinha Brasileira imediatamente iniciaram missões de busca e salvamento, sem sucesso, embora tenham encontrado alguns dos balões de Carli flutuando no oceano. Três dias depois, a FAB encerrou as buscas. Um avião particular contratado pela família e a Marinha continuaram a procurar o padre.
A Marinha encerrou as buscas no dia 1º de maio.

Em 3 de julho de 2008, o rebocador Anna Gabriela, a serviço da Petrobrás, encontrou um corpo no mar, no litoral norte do Rio de Janeiro, próximo à cidade de Maricá. O Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro fez exames de DNA e comprovou que o corpo era do Padre Carli. O corpo foi transladado para a cidade de Àmpere, no Paraná, onde foi sepultado.

O Padre Adelir de Carli foi "agraciado" postumamente com o Prêmio Darwin, que é atribuído ironicamente a pessoas que cometeram erros altamente absurdos ou se descuidaram idioticamente, pondo fim à sua existência ou causando sua esterilização. Esse prêmio baseia-se no pressuposto que esses indivíduos, ao se autodestruírem, contribuem para a melhoria genética da humanidade ao eliminarem os "maus genes".

6 comentários:

  1. Saudações
    Meu nome é Dener, sou Geógrafo graduado pela Universidade Estadual Paulista e gostaria de obter algumas orientações em torno de uma idéia que venho tendo para minha pesquisa.
    Sei que o vôo com balões de gás hélio não é uma atividade reconhecidamente aeronáutica, conforme exposto nessa postagem do blog. Entretanto, gostaria de saber se existe a possibilidade da execução de um vôo com balões de hélio à baixíssima altitude (no máximo 50 metros do solo), ligado por uma corda à um operador do solo. Meu intuito é realizar fotografias de formas do relevo a partir de ângulos aéreos em lugares de difícil acesso.
    Acredito que ligado à uma corda, o balonista não ficaria à deriva. Na ausência de obstáculos, tais como árvores, redes de alta tensão, creio ser totalmente possível dirigir o piloto a determinados pontos à uma distância relativamente baixa, na qual é possível a tomada de fotografias de diversos fenômenos.
    Gostaria de saber dos moderadores deste blog qual a opinião acerca dessa idéia e, caso tenham opinião favorável, que empresa ou profissional devo contatar a fim de por meu plano em execução.
    Grato pela atenção.
    Dener Toledo Mathias
    Rio Claro/SP

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    1. Dener, do ponto de vista técnico, tua idéia é viável e perfeitamente plausível. O fato dos balões serem cativos praticamente evitarão a deriva, e a corda servirá também para forçar a descida. Mas vejo um problema importante: acredito que tal atividade seja ilegal, pois pode oferecer risco potencial para a aviação. Consulte um advogado a respeito, ok?
      Nos Estados Unidos, existem até clubes de pessoas dedicadas a essa atividade, mais cuidadosas que o Padre Carli, que morreu mais pela extrema falta de planejamento. Boa sorte.

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  2. No ano 1974 eu saltei desta maquina voadora
    sd 25458.

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  3. Sou Pqdt 74/2 e saltei do Sapao
    Sd 25458

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  4. Caro Dener sugiro ao invés disso. Você contratar uma empresa de fotografias e videos que São feitos através de Drones. É mais seguro e eles conseguem fotografar difíceis acesso. ;)

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