Em 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial e do Governo Getúlio Vargas, também chegava ao fim um período de grandes provações, racionamento e autoritarismo político. Em todo o mundo, os anos que se seguiram à Segunda Guerra foram de esperança, reconstrução, otimismo e progresso.
A aviação comercial já deixara a sua infância, e entrava em um período de prosperidade e profissionalismo. No Brasil, país de dimensões continentais, era uma interessante e prática opção para se alcançar o interior, então em ascenção econômica, mas servido por uma fraquíssima infraestrutura de transportes.
A região Norte do Paraná, nessa época, ainda era esparsamente povoada, mas o trabalho de colonização empreendido pela empresa inglesa Companhia de Terras Norte do Paraná - CTNP, loteou as áreas urbanas e rurais, com a finalidade específica de cultivar café, então o maior produto de exportação brasileiro.
Com a Guerra, os ingleses venderam todos os seus interesses na região, para se concentrar na defesa do seu país, mas o progresso continuou a passos largos, e a região começou a gerar uma riqueza considerável com o cultivo do café. A região tornou-se um "Eldorado" para milhares de agricultores, comerciantes, aventureiros e até mesmo malfeitores, gerando a necessidade de um meio de transporte que ligasse a região aos grandes centros urbanos, particularmente São Paulo.
O epicentro da colonização do Norte do Paraná foiLondrina. Fundada entre 1929 e 1930, ganhou status de Município em 10 de dezembro de 1934, e seu crescimento foi tamanho que, no final de 1938, ganhou um aeroporto, aberto em uma área cedida pelos irmãos Edson e Mábio Palhano, próximo ao atual Patrimônio Espírito Santo, local hoje denominado Aviação Velha, já que o aeroporto foi substituído em 1953 pelo atual aeroporto de Londrina.
O Aeroporto serviu inicialmente a pequenos aviões particulares e táxis-aéreos, além de basear o aeroclube local, mas com o início da Guerra, em agosto de 1942, o racionamento de gasolina e as demais dificuldades, ficou praticamente em estado de abandono, pelo menos até o final de 1945.
A riqueza gerada na região chamou a atenção de uma pequena empresa aérea, a Viação Aérea Arco-Íris S/A - VAA, baseada no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Essa empresa começou a operar em 12 de julho de 1946, e servia inicialmente uma linha que ligava São Paulo às cidades paulistas de Ourinhos, Assis e Presidente Prudente.
Ao contrário de inúmeras empresas aéreas surgidas nessa época, que estavam comprando aeronaves Douglas C-47 e DC-3 usadas na Guerra e colocadas à venda pelos americanos como "War Surplus" (sobras de guerra"), a VAA adquiriu seis aeronaves britânicas De Havilland DH-89A Dragon Rapide.
Os seis aviões foram matriculados como PP-AIA, PP-AIB, PP-AIC, PP-AID, PP-AIE e PP-AIF. Os Dragon Rapide eram biplanos bimotores, capazes de transportar de 6 a 8 passageiros em linhas curtas, além de um ou dois tripulantes.
Embora os Dragon Rapide fossem aeronaves bem sucedidas nos anos 30 e durante a Guerra, já eram tecnicamente obsoletos em 1946. Construídos em grande parte de madeira, e equipados com motores Gipsy Six de 200 HP, ofereciam pouco conforto aos passageiros, que se sentavam em cadeiras de vime, bem ao estilo colonial inglês. Não havia divisão entre o cockpit e a cabine de passageiros. O avião tinha um desempenho surpreendente, pois podia voar em velocidades de até 210 Km/h, tornando as viagens muito rápidas, se comparado com o trem, que podia levar até 24 horas para ir de Londrina a São Paulo, com baldeação em Ourinhos, ou com os ônibus, ainda mais demorados, devido às péssimas condições das rodovias.
A VAA foi, ainda em 1946, a primeira empresa aérea a operar no Aeroporto de Londrina, constituindo na verdade uma extensão dos voos para o oeste paulista. Era uma opção interessante para os passageiros que precisavam ir a São Paulo ou às outras cidades servidas pela empresa, mas a pequena capacidade dos aviões estava aquém da demanda pelo serviço.
A operação dos Dragon era muito tosca, não havia serviço de bordo e o atendimento em terra era extremamente precário. Segundo o site "Pioneiros do Ar" (http://www.pioneirosdoar.com.br/), um dos comandantes da empresa costumava levar uma espingarda e seu cachorro perdigueiro a bordo, que auxiliava o dono em caçadas de codornas em pleno aeroporto de Ourinhos, uma das escalas do avião.
A empresa, na verdade, tinha pequena capacidade de investimento, e bem cedo os problemas começaram a se revelar. Logo após o início das operações, o Dragon Rapide PP-AID perdeu-se em uma trágico acidente em Congonhas. Ainda segundo o site "Pioneiros do Ar", um dos passageiros desse avião sobreviveu ao desastre, pois caiu da aeronave quando se encontrava na porta da mesma, antecipando o pouso. A porta abriu-se em uma rajada de vento que pegou o avião, e o passageiro caiu em um dos eucaliptos que então margeavam a Avenida Indianópolis, saindo praticamente ileso. A única reclamação que fez à VAA foi a perda do seu chapéu. O acidente foi atribuído à forte rajada de vento pouco antes do pouso em Congonhas. A aeronave capotou e incendiou-se imediatamente, vitimando fatalmente seus ocupantes.
O ano de 1946 ainda não havia acabado quando, na véspera de Natal, 24 de de dezembro de 1946, um segundo Dragon Rapide, o PP-AIB, acidentou-se, com perda total, em Fartura/SP. Embora a VAA tenha adquirido um sétimo DH-89A, matriculado PP-AIG, perdeu um terceiro avião em Araranguá/SC, o PP-AIE, em 31 de outubro de 1948.
Por volta dessa época, a VAA estava tentando operar para a região sul do país, mas a situação ficava cada vez mais difícil, pois dezenas de empresas, operando DC-3 bem mais espaçosos e confortáveis, já estavam atuando no mercado.
Por fim, os proprietários da VAA venderam a empresa para um grupo de empresários de Caxias do Sul/RS, que passou a ser a sede da empresa. As operações a partir de São Paulo foram encerradas, mas a empresa não conseguiu deslanchar no Sul, premida pela feroz concorrência oferecida pela Varig, já então uma poderosa empresa, e que dominava o mercado de transporte aéreo no Rio Grande do Sul. Os proprietários tentaram capitalizar a empresa por meio de uma subscrição pública de ações, mas houve pouco interesse dos investidores.
Praticamente sem condições de continuar operando, a VAA teve suas linhas cassadas em junho de 1950. Os quatro aviões remanescentes foram vendidos, encerrando-se assim a curta vida da empresa.
O Aeroporto de Londrina não ficou sem transporte aéreo regular, com o encerramento dos voos da VAA. Em 1948, a REAL inaugurou uma linha regular para Londrina, utilizando aeronaves Douglas DC-3. O voo inaugural foi comandado pelo Comandante Linneu Gomes, então presidente da empresa. A REAL permaneceu como a principal operadora de voos regulares em Londrina até a sua incorporação pela Varig, em agosto de 1961.
Nossa bem interessante este artigo!!!! Acredito que poucos sabem disso!!!!!!
ResponderExcluirOla.
ResponderExcluirAchei hoje duas passagens aereas de meu avõ e minha avo, as duas são de 1946, e viajaram pela Arco Ires.Se qizer posso mandar fotos dos bilhetes, estão bastantes manchados pela umidade, mas fora isto, estão em bom estado.Meu whatsapp e' 9996444629.
Olá, caso seja possível, também tenho interesse em receber as imagens das passagens. Tenho algumas imagens, da Real e a Panair, caso tenha interesse. Se for mandar por e-maiL: lufrasa@gmail.com; se for mandar por whatsapp, (11) 94339-2986. Obrigado. Luiz Sales
ExcluirEu quero as fotos sim, por favor, pode mandar no meu email, jonas.liasch@gmail.com
ResponderExcluirMuito interessante. Não conhecia esse modelo de aeronave De Havilland Dragon Rapide. São aviões diferentes da maioria da época. Valeu.
ResponderExcluirBoa Tarde Amigos, quero falar sobre os DRAGON RAPIDE, especialmente o PP-AIA. A cidade é São Luis, capital do Estado do Maranhão, o ano é 1956. Personagens, Comandante Mario Ângelo da Silva Nery e Oswaldo Paranhos, cidadãos paulistas, que trabalharam na campanha de Ademar de Barros a Presidência da República justamente, justamente pilotando o PAPAI, como eles chamavam o PP-AIA. Estavam na cidade para implantar o serviço de Taxi Aéreo, o que realmente fizeram e o meu pai foi o seu Agente/Representante que ganhava comissão sobre o valor das passagens. Tenho mais histórias, que talvez renda outros capítulos.
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ResponderExcluirMeus amigos. Existe um pequeno engano no histórico do acidente em Congonhas. Meu pai faleceu nesse acidente no dia 11 de dezembro de 1.946. Ele 'embarcou'no vôo para P.Prudente. Na decolagem teve uma pane de potência, o avião perdeu sustentação. O piloto tentou retornar à pista, mas, bateu uma das asas nos eucaliptos caindo, sim, na pista. Portanto o acidente "não se consumou no pouso, e sim na decolagem". Realmente um passageiro foi 'arremetido' para fora, porém, sob o impacto das asas e não "uma rajada de vento", sobrevivendo. OBS: Muito bom este espaço da Cultura Aeronáutica. Parabéns.
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