Google Website Translator

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Pinal Airpark: o cemitério dos jumbos

Em Marana, no estado americano do Arizona, cerca de 30 milhas a noroeste de Tucson, existe um movimentado aeroporto público denominado Pinal Airpark. O aeroporto parece desproporcional a Marana, uma quente e ressequida cidade de apenas 35 mil habitantes, pois abriga uma enorme frota de aeronaves comerciais, incluindo muitos Boeing 747.
Aeronaves desativadas lotam o pátio do Pinal Airpark
Entretanto, nenhuma companhia aérea opera regularmente em Marana. Não há esteiras de bagagem, nem grandes restaurantes, nem lojas e nem guichês de companhias. Mas não há silêncio, no entanto. Existe um ruído constante, e irritante, de poderosas máquinas industriais. Sua tarefa é reduzir aeronaves a pedaços. Pinal Airpark é, na verdade, um grande cemitério de aeronaves, local do último pouso de aviões que, por anos a fio, transportaram milhões de passageiros ou milhares de toneladas de carga durante sua vida útil.
Após a remoção dos trens de pouso, as aeronaves ficam apoiadas provisoriamente em pilhas de dormentes ferroviários de madeira
A história do Pinal Airpark começa durante a Segunda Guerra Mundial. Construído para o Exército dos Estados Unidos em 1942 pelo Sundt & Del Webb Construction Companies, e inaugurado em março de 1943, essa instalação foi batizada como Marana Army Air Field. Durante a guerra, o aeroporto foi sede  da 389th Army Air Force Base Unit, vinculada à AAF West Coast Training Center, cujo objetivo principal era formar nada menos que 50 mil pilotos militares para combater na Segunda Guerra Mundial.
Dezenas de grandes aeronaves lotam o aeroporto. Muitas jamais voarão novamente
Originalmente, tinha 4 pistas, em um arranjo que lembra o número 4. Foi equipado com uma ampla infraestrutura que compreendia luz elétrica, encanamentos de água, esgoto e gás, além de hangares e outras facilidades. Um grande sistema de drenagem, em canais, foi construído para escoar a água resultante das torrenciais e repentinas tempestades que assolam constantemente o deserto do Arizona. Um ramal e uma estação ferroviária também foram construídos para servir a base.
Na linha da morte, um Boeing 747 e um 767 prestes a desaparecer por completo
 A principal unidade de treinamento baseada em Marana era a 3024th (Basic Training), que formava pilotos de aeronaves de transporte e navegação por instrumentos. Muitos pilotos chineses também foram formados em Marana. Como apoio à base principal, foram construídos no deserto cinco aeródromos auxiliares vizinhos, Picacho Aux # 1, # 2, Rillito Aux (atualmente utilizado com o nome de Marana Northwest Regional Airport), Coronado Aux # 3, Avra Aux # 4, e Sahuaro Aux # 5 (atualmente utilizado com o nome de El Tiro Gliderport).
Esse Boeing 747-400, o N185UA entregue novo à United em 1992, foi estocado em Marana em 2009
Com o fim da guerra, em 1945, o Marana Army Air Field, assim como centenas de outros campos de pouso espalhados pelos Estados Unidos, foi fechado e, praticamente, abandonado pelo governo. Simplesmente, não havia mais necessidade dele.
O N185UA, que, na verdade, nunca chegou a operar para a BlueSky, jamais voltou a voar, e foi para a linha da morte, com apenas 19 anos de uso, em 2011.
Em 1948, a USAF, sucessora do Army Air Forces, repassou o direito de propriedade do Marana Army Airfield para o Condado de Pinal, depois de demolir a maior parte das instalações e infraestruturas militares construídas durante a guerra. O aeródromo fica na divisa entre os Condados de Pima e Pinal. O Condado de Pinal alugou o aeródromo para operadores civis, entre 1948 e 1951, e para a Darr Aeronautical Technical Company, uma escola civil de pilotos terceirizada pela USAF, entre 1951 e 1956.
Esse DC-10 foi cuidadosamente protegido da areia, visando seu provável retorno à ativa
Durante a Guerra do Vietnan, Marana tornou-se a base doméstica de todas as operações aéreas da CIA - Central Inteligency Agency, que montou uma empresa aérea de fachada, a Intermontains Airlines, cujo principal objetivo, velado, era apoiar operações aéreas secretas da inteligência americana no Vietnan.
A estrutura do cockpit, ou mesmo o cockpit inteiro, são cobiçados por produtores de Hollywood
Um dos engenhos mais interessantes testados em Marana foi o Skyhook Fulton (vejam o artigo sobre esse interessante equipamento aqui nesse blog: http://culturaaeronautica.blogspot.com.br/2009/09/skyhook-um-estranho-aparelho-de-resgate.html).
Depois, o Pinal Airpark é utilizado por um empresa privada, a Evergreen, que instalou o Evergreen Aircraft Maintenance Facility, dedicado à manutenção de aeronaves temporariamente desativadas e desmonte de aeronaves retiradas definitivamente de serviço, além de conversão de aeronaves de passageiros para cargueiros e outras finalidades especiais. A Evergreen converteu, por exemplo, um Boeing 747-100 para avião-bombeiro, atividade que jamais deve ter sido imaginada por seus projetistas originais.

Após a falência da Evergreen, outras empresas assumiram o lucrativo negócio de reciclagem de aeronaves, como a Aircraft Demolion, LLC, a Jet Yard, LLC e a Marana Aerospace Solutions.
Esse Boeing 747-100 foi convertido para avião-bombeiro em Marana, sendo o maior avião desse tipo no mundo
Como resultado dessa atividade,  o Pinal Airpark recebe frequentemente aeronaves, a maioria de grande porte, para a morte. São aeronaves muito voadas, e cujo custo de manutenção e operação já não compensam. É caro manter uma aeronave comercial em condições de aeronavegabilidade, e esse custo vai aumentando com a idade da aeronave. Chega a um certo ponto que a aeronave já vale mais desmontada do que inteira, e aí o seu destino está selado.
Aeronaves desativadas aguardando o seu destino final
 Hoje, quase não existem mais aeronaves como Boeing 707 e Douglas DC-8 sendo desmontados. Esses praticamente não existem mais. Os aviões da vez são os Boeing 747-200, -300 e -400, 767, 757 e McDonnell-Douglas DC-10, além de Airbus A300 e A320.
As garras hidráulicas e as serras circulares motorizadas rapidamente convertem um antes poderoso 747 a uma pilha de metal
Existem muitos cemitérios de aviões nos Estados Unidos. Podemos citar Mojave e Victorville, na Califórnia, Goodyear e Kingman no Arizona, e Opa-Loka na Flórida. Mas Pinal Airpark se caracteriza pelo desmonte de grandes aviões, como os Boeing 747 e os McDonnell-Douglas DC-10. De certa forma, é um tanto deprimente ver um avião desses chegar voando ao aeroporto e ser desmontado sem maiores cerimônias.
A preservação e a reciclagem de aeronaves fora de serviço é um negócio que movimenta bilhões de dólares anualmente nos Estados Unidos
Hoje, o Pinal Airpark tem somente uma pista ativa, a 12-30, com 2088 metros de extensão. As demais pistas, do tempo da Segunda Guerra Mundial, são usadas como ponto de estacionamento de aeronaves. O clima seco do deserto preserva as aeronaves desativadas da famigerada corrosão intergranular do duralumínio, o maior fantasma das estruturas de avião. Embora se pense o contrário, muitas aeronaves que estão em Marana voltam a voar novamente, depois de uma preservação cuidadosa feita pelas empresas, que também oferecem o serviço de armazenagem e preservação de aeronaves temporariamente fora de serviço.
Esse 747, antes operado pela Northwest, aguarda se destino final na linha da morte
Depois de algum tempo estacionada, se a decisão do seu operador for pelo desmonte, todos os equipamentos úteis e valiosos são cuidadosamente removidos e colocados à venda, como motores, instrumentos, trens de pouso, APUs, aviônicos e outras peças. O restante da estrutura é pícado por tesourões hidráulicos, montados em veículos com lagartas, depois de limpos das partes de plástico e isolamentos térmicos, cujo destino é simplesmente o lixo. O metal picado é vendido para reciclagem, e sai de Marana em grandes caminhões-pranchas. É o fim do avião.
Dois Boeing 777-200, antes operados pela Varig, aguardam novo operador ou o tesourão
Os militares ainda permanecem no Pinal Airpark. O aeroporto abriga o Silver Bell Army Heliport, base da Western Army National Guard Aviation Training - WAATS.  A base é equipada com helicópteros de ataque AH-64 Apache, e é uma excelente base de treinamento, pois possui grande áreas planas e desertas e condições meteorológicas favoráveis durante praticamente o ano inteiro, além de estar cercada por aeródromos civis e militares muito bem equipados. Trinta por cento do movimento do Pinal Airpark é militar.
Na vista de satélite, as 4 pistas antes existentes são claramente visíveis
Embora seja um aeródromo público, o Pinal Airpark e seu cemitério de aeronaves não é visitável. Os poucos turistas que se arriscam recebem um folheto de propaganda do Pima Air & Space Museum, na vizinha cidade de Tucson, e são convidados a se retirar. O Pima Museum não deixa de ser um ótimo programa, sem dúvida, mas a frustração de deixar de ver os grandes jumbos sendo desmontados é grande. Para quem vem voando, é possível pousar para abastecer no aeródromo e depois sobrevoar o cemitério a baixa altura, mas andar entre os aviões armazenados é praticamente impossível. Embora se trate de aeronaves desativadas, é um patrimônio consideravelmente valioso, e é justificável que seja cuidadosamente guardado e preservado da deterioração e de eventuais vandalismo. Definitivamente, o Pinal Airpark não é um museu. Se fosse, seria um dos mais visitados da região.

O Pinal Airpark ocupa uma área de 840 hectares no deserto. Atualmente possui uma única pista asfaltada de 2088 metros de comprimento e 46 metros de largura. Possui elevação média de 1893 pés. Sua designação ICAO é KMZJ, e na IATA  é MZJ.
(atualizado em 19 de maio de 2016)

18 comentários:

  1. Olá Jonas.
    É uma grata surpresa a qualidade dos artigos deste blog. Muito bom este sobre o Pinal Airpark.
    Meus artigos favoritos são os que tratam da história da aviação brasileira, como o relato dos 707 e 747 da Varig.
    Tenho uma sugestão de tema: As pinturas de nossas companhias: quais usadas pelas principais durante sua existência. Por exemplo: eu não sei em que ano a Vasp adotou seu último leiaute, tampouco se algum 727 chegou a tê-la. E a Trans Brasil? quando deixou de exibir suas várias aeronaves coloridas??
    Continue com o bom trabalho.
    Abraço.
    Willer.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom!!! Sempre que tem um post novo é um post interessante. Parabéns pelo conteúdo e se puder publicar mais coisas, os aficcionados por aviação certamente vão adorar.
    Abraço

    ResponderExcluir
  3. Jonas, desses 2 B772 (não ER ou LR) da VRG que aparecem nas fotos, um deles foi o primeiro B77 a ser completamente sucateado e destruído, infelizmente. Aliás, apenas duas companhias no mundo ainda operam essa micada série do Triple Seven.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente. Esses 777-200 são os denominados A-Market, que se destinavam a substituir os velhos DC-10-10 e Dc-8 que ainda estavam operando voos domésticos ou internacionais de curto alcance. Foi um mico mesmo, e realmente um daqueles dois, o PP-VRD, foi desmontado. Valem mais picados que inteiros, infelizmente. No blog tem um artigo especificamente sobre isso, confira.

      Excluir
  4. Ótimo artigo Jonas, infelizmente fico muito triste vendo essas aeronaves na linha da destruição, principalmente os aviões da "VARIG"...

    ResponderExcluir
  5. "Torrenciais e repentinas tempestades que assolam CONSTANTEMENTE o deserto do Arizona"??? Sim, eu sei que quando resolve chover no deserto, pode ser um verdadeiro dilúvio, mas um DESERTO onde chove CONSTANTEMENTE??? Boa, muito boa!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
    2. Mantenho o texto... exceto durante os meses de julho e agosto, tempestades repentinas e muito pesadas ocorrem CONSTANTEMENTE nos desertos de Chihuahua e Mojave, mas são isoladas, não aumentando a umidade relativa do deserto como um todo. Sugiro ler mais sobre o assunto ou conhecer o lugar pessoalmente, antes de se pronunciar publicamente sobre ele.

      Excluir
  6. Caro LIASCH, parabéns pela criação do blog... Bela iniciativa e uma grande contribuição para ações acadêmicas e curiosos. AVANTE!!!!! Forte abraço. Prof Dr Afonso Farias

    ResponderExcluir
  7. Jonas....Será que no Brasil não teríamos uma região propícia para instalação de um negócio como esse??

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Claro que sim, já tenho até um aeroporto em vista...

      Excluir
    2. Mas no BRASIL , isso é inviavel ,pois o VANDALISMO e com a nossa JUSTIÇA de 2 pesos e medidas,,, logo logo estariamos nas mãos de POLITICOS "ONESTOS " como sempre , ONDE FALTA O RESPEITO a carta MAGNA nada vai a FRENTE ,,, MAS TORCENDO SEMPRE PELO SUCESSO , Cmte LIASCH

      Excluir
  8. Ótima matéria. Sou apenas admirador de aviões e não deixo de ter uma nostalgia por ver estas máquinas maravilhosas e caras desaparecerem no tempo. Quem dera pudesse ter uma para "brincar"!

    ResponderExcluir
  9. Eu queria comprar um painel completo de um MD-11 ou 747

    ResponderExcluir
  10. tenho interesse em aeronaves b757-200

    ResponderExcluir
  11. gostei muito, mas como entrar em contato com proprietarios de algumas aeronaves?

    ResponderExcluir
  12. gostei muito, mas como entrar em contato com proprietarios de algumas aeronaves?

    ResponderExcluir

Gostou do artigo??? Detestou? Dê a sua opinião sobre o mesmo.