Na virada do Século XIX para o Século XX, o Aeroclube da França mantinha uma aeroestação no bairro de St. Cloud, em Paris. Essa aeroestação ficava na hoje denominada
Avenue du Maréchal Jean de Lattre de Tassigny, entre as avenidas Clodoald e Longchamps. Esse local era a base de lançamento de balões dos sócios do Aeroclube, e era sempre muito movimentado, exceto durante os meses do inverno.
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O primeiro hangar do mundo em St. Cloud |
O Aeroclube da França foi fundado em 1898 e já contava com cerca de 400 membros em 1900. Santos-Dumont foi um dos seus fundadores e fazia parte do primeiro Comitê de Direção, integrado também por Henry de La Valx, Gustave Eiffel, Ernest Archdeacon e Paul Tissandier, entre vários outros. O Aeroclube era presidido pelo Conde Albert de Dion, que também havia fundado o Automóvel Clube da França alguns anos antes.
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Aeroestação de St. Cloud 1899 |
O Aeroclube da França comprou o terreno em St. Cloud, o que permitiu aos seus sócios dispor de um espaço exclusivo para o lançamento dos balões, até então lançados de parques públicos de Paris, como o Jardim de Aclimação.
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Localização do hangar e da Aeroestação de St. Cloud (foto: Luiz Pagano) |
A personalidade prática e irrequieta de Santos-Dumont, no entanto, logo se fartou dos complicados e procedimentos de lançamento de balões. A cada voo, era necessário produzir o gás hidrogênio, estender cuidadosamente o invólucro do balão e enchê-lo para voar. Depois, era preciso esvaziar o balão e dobrá-lo novamente, já que não havia como mantê-lo cheio para outros voos, pois ficava exposto às intempéries. O hidrogênio era desperdiçado.
Santos-Dumont logo pensou, então, em construir um abrigo para os balões já inflados para evitar todo esse trabalho e desperdício de gás. Obteve autorização do Aeroclube para construir um grande galpão em madeira na Aeroestação de St. Cloud. Estava nascendo o primeiro hangar de aeronaves da história.
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O hangar de St. Cloud (foto: Luiz Pagano) |
O termo "hangar" veio do inglês hangar, que originalmente significava "depósito de veículos de tração animal", e a palavra tem provável origem holandesa, uma modificação de ham-gaerd, que significa "galpão ao lado da casa".
Santos-Dumont concluiu a construção do seu hangar em junho de 1900. Era um grande galpão de madeira, de 30 metros de comprimento, 11 metros de altura e 7 metros de largura na base, excluindo os suportes das duas portas corrediças, uma grande novidade criada pelo inventor brasileiro.
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Interior do hangar de St. Cloud (foto: Luiz Pagano) |
Portas corrediças eram inexistentes à época. Os construtores do hangar de Santos-Dumont consideravam tal idéia impraticável, e duvidavam que funcionasse, mas o inventor apoiou a porta em grandes rolamentos, que corriam sobre trilhos acima e abaixo, e seu funcionamento era tão suave que até uma criança conseguia abri-la sem fazer grande esforço. A porta era voltada para o lado sul do hangar. O terreno em frente não era plano, tinha um forte declive para o lado leste, em direção ao vale do Rio Sena.
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O dirigível nº 6 no hangar de St. Cloud |
Um pequeno anexo do hangar continha barris de ácido sulfúrico e uma caixa de limalha de ferro. O ferro reagia com o ácido, produzindo o hidrogênio, que era canalizado para o interior do hangar e para os balões por uma mangueira.
O primeiro dirigível de Santos-Dumont a ser montado e experimentado no hangar foi o nº 4. Os dirigíveis nº 5, nº 6 e nº 7 também foram construídos lá, mas Santos-Dumont logo concluiu que o hangar de St. Cloud não era mais adequado. Novas construções foram feitas nas proximidades, inclusive uma fábrica de balões do empresário Henri Deutsch de La Meurthe, tornando o lugar um tanto perigoso para manobrar dirigíveis.
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O hangar de Neuilly, que substituiu o pioneiro de St. Cloud |
Santos-Dumont construiu um novo hangar em Neuilly, relativamente próximo dali, e que foi inaugurado na primavera de 1903. O dirigível nº 7, embora tivesse sido construído em St. Cloud, foi montado já em Neuilly, e Santos-Dumont não usou mais seu hangar pioneiro, que teve, então, vida muito curta. Não se sabe qual foi o destino que o Aeroclube da França deu ao hangar, pois a Aeroestação de St. Cloud também logo deixou de existir.
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Monumento a Santos-Dumont em St. Cloud |
Em St. Cloud, o Aeroclube da França mandou fundir uma estátua em bronze, representando o Ícaro da mitologia grega, em homenagem a Santos-Dumont.Tal monumento foi colocado em uma pequena praça redonda, próxima à antiga Aeroestação de St. Cloud, e foi inaugurada em 19 de outubro de 1913. Em sua base, está escrito: "Ce monument a eté éleve par L' Aero Club de France pour commemorer le experiénces de Santos-Dumont, pionnier de la locomotion aérienne." (Este monumento foi erigido pelo Aeroclube da França para comemorar as experiências de Santos-Dumont, pioneiro da locomoção aérea.
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Santos-Dumont posando junto ao monumento original em St. Cloud |
Infelizmente, durante a ocupação nazista de Paris, durante a Segunda Guerra Mundial, a estátua original foi removida pelos alemães e destruída para reciclar o bronze, para finalidades militares.
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Na década de 1920, o local antes ocupado pela Aeroestação de St. Cloud e pelo hangar pioneiro de Santos-Dumont (à esquerda da foto) já estava ocupado por casas |
Uma réplica, aproximadamente igual à original, foi recolocada no local, por brasileiros, em 1952 e está lá até hoje. A simples praça que a envolve é denominada Praça Santos Dumont, e está na confluência das Avenue de Longchamp, Avenue du Maréchal Jean de Lattre de Tassigny, Avenue Duval Le Camus, Avenue Romand e Avenue de Suresnes. Nada mais resta da Aeroestação de St. Cloud além dessa praça e de seu monumento. No lugar onde existiu o pioneiro hangar de Santos-Dumont, foram construídas casas elegantes.
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Nesse endereço, na Avenue du Maréchal De Lattre de Tassigny, ficava o primeiro hangar de aeronaves da história. |
Grande Jonas.....excelente artigo....sempre top!!! Grande Abraço.
ResponderExcluirIncrível!
ResponderExcluirObrigado por compartilhar detalhes tão importantes desta cultura, que merecia que nossas crianças tivessem na escola.
Mas a gente ensina...
Obrigado!!
ESTA SERVINDO DE CONTEUDO PARA MINHA MONOGRAFIA, VALEU MESMO..
ResponderExcluirQue brasileiro espetacular. Não se constroem mais homens como este. Mas dizem que Santos Dumont teve a alma aflita por descobrir que seu grande invento começou a ser utilizado para fins bélicos. Li também que um fato marcante antecipou a morte dele. Uma aeronave transportando alguns de seus amigos caiu quando se aproximava do Rio de Janeiro, matando os ocupantes, como já citado, alguns eram amigos de Dumont. Tal acontecimento teria abalado muito o grande aviador.
ResponderExcluirGostaria de falar sobre alguns tópicos com o publicador desta matéria - por favor. Preferindo, deixo o e-mail ..
ResponderExcluirrubens_hz@yahoo.com.br . Abço.
Muito bom o teu artigo, precioso!
ResponderExcluirArtigo precioso! Faltou parte da história das portas para hargar
ResponderExcluirExcelente artigo do nosso patrono Santos=Dumont, tenho dúvida sobre o as medidas do segundo Hangar tem relatos sendo duplo com dois dirigíveis dentro. Qual Hangar foi montado o 14bis?
ResponderExcluirIncrível a análise! Quando comecei a ler queria saber como estaria o hangar hoje e isso foi respondido! Excelente!!!
ResponderExcluirConhece a História: O gaúcho que laçou um avião há 65 anos - Peão laçou um pequeno avião que dava rasantes numa fazenda em Santa Maria. Um peão de estância laçar um avião "pelas guampas", em pleno ar, parece lenda, mas é fato. Isso aconteceu em janeiro de 1952. Foi numa fazenda, nas proximidades da Base Aérea de Camobi, em Santa Maria. O autor da façanha, Euclides Guterres, então com 24 anos. O piloto do "Paulistinha", o jovem Irineu Noal, 20 anos. Ambos já falecidos.
ResponderExcluirQuando cuidava de uma novilha doente, Euclides notou que um pequeno avião dava rasantes sobre as coxilhas, aproximando-se cada vez mais de onde estava. O peão, achando que aquilo era brincadeira ou algum tipo de provocação, não teve dúvidas: armou o laço de 13 braças e quatro tentos e o atirou em direção ao bico do teco-teco, acertando o alvo.Por estar preso na cincha do arreio sobre o cavalo, o laço, com o impacto, arrebentou na presilha e seguiu pendurado no avião. O piloto, assustado, tratou de pousar na pista da base aérea. Longe do hangar, retirou o laço e o escondeu no meio das macegas. No dia seguinte, um instrutor notou que a hélice do aparelho estava rachada. Pressionado, o piloto confessou o acontecido.O comandante do aeroclube procurou o jornalista Cláudio Candiota (1922-2012), diretor de A Razão, e contou a história, mas pediu para não divulgá-la, "para não causar prejuízo à imagem do estabelecimento sob sua responsabilidade". O jornalista comentou: "Deixa comigo. Vou tornar este aeroclube famoso em todo o mundo". Não só deu a notícia no seu jornal como no Diário de Notícias, de Porto Alegre, e telefonou para a revista O Cruzeiro. Esta, na mesma semana, mandou seu melhor fotógrafo, o gaúcho Ed Keffel, a Santa Maria, onde reconstituiu o episódio e o estampou em cinco páginas, amplamente ilustradas. Com circulação de mais de 700 mil exemplares, a reportagem de Cláudio Candiota repercutiu na imprensa mundial. A notícia saiu até na Time americana. "Eu não fiz por maldade. Foi pura brincadeira. Para falar a verdade, não acreditava que pudesse pegar o aviãozinho pelas guampas num tiro de laço", confessou Euclides Guterres.
fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/almanaque/noticia/2017/01/o-gaucho-que-lacou-um-aviao-ha-65-anos-9065288.html
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ResponderExcluirParabéns pelo bolog e pelo artigo!
ResponderExcluirÉ muito importante divulgar as conquistas de Santos=Dumont como forma de elevar nossa auto-estima de brasileiros e por seu impacto positivo como influenciador do estudo científico das novas gerações.
Agradeço também a referncia ao meu trabalho e ao meu blog ( https://santosdumontvida.blogspot.com/ ) . Coloco todo o material do minhas pesquisas à sua disposição, bem como a vossos seus leitores.
Saudações!