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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Aeroclube do Brasil: a mais antiga escola de aviação do país

Em 1911, a aviação ainda passava pela sua fase pioneira. No Brasil, existiam poucos aviões e pilotos. Mas em 14 de outubro desse ano, um grupo de idealistas reuniu-se em assembléia nas dependências do jornal "A Noite", de propriedade de Irineu Marinho, no Rio de Janeiro, então capital brasileira, para fundar o primeiro aeroclube do país, que se chamou, inicialmente, Aeroclube Brasileiro.
Essa assembléia elegeu Alberto Santos Dumont como Presidente de Honra, o Almirante José Carlos de Carvalho como Diretor Presidente e Vitorino de Oliveira, redator do "A Noite", como Diretor Secretário.

O Aeroclube Brasileiro construiu seu primeiro campo de pouso no hoje lendário Campo dos Afonsos, onde funcionou a pioneira Escola Brasileira de Aviação. Foi necessário um grande empenho da primeira diretoria para a construção desse campo. Os primeiros aviões foram adquiridos por subscrição pública, mas logo foram cedidos ao Exército, para serem usados na Campanha do Contestado, um conflito armado civil entre os Estados de Santa Catarina e Paraná. Os aviões foram usados nessa campanha para reconhecimento, e um dos Diretores do Aeroclube, o Tenente Ricardo Kirk (foto abaixo), perdeu a vida nessa campanha. Para piorar, alguns aviões do Aeroclube foram perdidos em um incêndio enquanto eram transportados para a região do conflito.
O conflito do Contestado durou de 1912 a 1916, e o Aeroclube demorou a retomar os aviões do Exército. Conseguiu reunir uma nova turma de alunos, agora sob a direção do Tenente Bento Ribeiro Filho. Infelizmente, essa turma não conseguiu se brevetar, pois os dois checadores, o próprio Bento Ribeiro e Virginius Delamare, tiveram que retornar ao quartel, mobilizados pela declaração de guerra do Brasil ao Império Alemão, em outubro de 1917.

Em 1919, o Aeroclube se filia à FAI - Federação Aeronáutica Internacional, sediada em Paris, e em nome da Federação passa a conceder brevês de pilotagem no Brasil. Exerceria essa função até a criação da Diretoria de Aeronáutica Civil - DAC, em 1931, que passou a emitir brevês em nome do Governo Brasileiro e tornou desnecessários os brevês da FAI, pelo menos em território nacional.

A permanência do Aeroclube no Campo dos Afonsos logo se tornou inviável, pois o Exército requisitou o campo para instalar a Escola de Aviação Militar e posteriormente despejou o Aeroclube do local sem maiores cerimônias.

Com as operações aéreas interrompidas e em séria crise decorrente desse fato, o Aeroclube elegeu uma diretoria composta por Paulo Vianna, Cezar Grillo e Antônio Guedez Muniz para encontrar um novo local para o campo de pouso. Esse "triunvirato", liderado por Paulo Vianna, resolveu instalar o campo em Manguinhos (foto abaixo), desbastando uma pequena elevação em um terreno da Fundação Oswaldo Cruz e aterrando o mangue ali existente. O terreno nunca foi transferido oficialmente para o Aeroclube, mas foi ocupado com a conivência das autoridades.
O "triunvirato" mudou o nome a instituição para Aeroclube do Brasil. O Aeroporto de Manguinhos tornou-se sua base por vários anos, anos de ouro para o Aeroclube. De fato, foi no Aeroclube do Brasil, em Manguinhos, que se fortaleceu, em 1941, a Campanha Nacional de Aviação, por iniciativa do Ministro da Aeronáutica Joaquim Pedro Salgado Filho e do jornalista Assis Chateaubriand, que resultaria na criação de três centenas de aeroclubes pelo Brasil afora. Também surgiu em Manguinhos a primeira "Semana da Asa", em 1935.
Foram criados, em Manguinhos, os departamentos de paraquedismo e aeromodelismo, e o Aeroclube formou a maioria dos instrutores de voo dos novos aeroclubes que estavam sendo criados graças à Campanha Nacional de Aviação. O principal curso mantido pelo Aeroclube era o de Piloto de Recreio e Desporto (atual Piloto Privado - PP).

Infelizmente, no final dos anos 50 o Aeroporto de Manguinhos passou a sofrer sérias restriçoes, pois o seu tráfego aéro interferia tanto no tráfego do Aeroporto do Galeão quanto no do Aeroporto Santos Dumont. De fato, o Aeroporto de Manguinhos foi interditado em 1961 e somente algumas operações limitadas foram permitidas por lá, por algumas empresas de manutenção de aeronaves instaladas nos antigos hangares do Aeroclube.

Novamente sem voar, e sobrevivendo de rendas de aluguel de alguns imóveis de sua propriedade na Cinelândia, o Aeroclube passou 10 anos instalado em uma pequena sala cedida por um dos sócios, e por pouco não vira o Aeroclube da Guanabara, em 1967. Somente o empenho da sua Diretoria junto a parlamentares evitou essa descaracterização, e a Lei 5.404/68 manteve a designação de Aeroclube do Brasil e o salvou dessa humilhação e falta de memória histórica.

Em 1972, finalmente o Aeroclube do Brasil consegue novamente um novo campo para voltar a operar. Era o velho campo da Latecoere, no Jacarepaguá, então administrado por uma empresa de economia mista, a ARSA - Aeroportos do Rio de Janeiro S/A. Nas novas instalações, que passaram posteriormente para o controle da INFRAERO, operou inicialmente um velho Aeronca Sedan, adquirido em 1950, e três Fokker T-21 e T-22, desativados da Academia da Força Aérea e doados ao Aeroclube. Nessa época, graças ao ás da Segunda Guerra Mundial Pierre Closterman, volta a representar a FAI no Brasil.

Hoje, o Aeroclube dispõe de uma sede social e dois hangares no Jacarepaguá, cedidos em comodato pelo INFRAERO, e opera uma frota de cinco aeronaves Aerotec T-23 Uirapuru, dois Aeromot AMT-600 Guri, dois Embraer 712 Tupi e um Embraer 810, além de dois simuladores ATC, um de monomotor e outro de bimotor. Mantém atualmente os cursos de Piloto Privado, Piloto Comercial, Voo por Instrumentos, Instrutor de Voo-Avião, Acrobacia e Multi-motor.

O Aeroclube do Brasil também opera uma oficina de manutenção de aeronaves em suas instalações no Jacarepaguá, a qual é homologada para aeronaves Cessna 140, 170, 172, 180 e 182, Piper PA-34 Seneca, Embraer 711 e 712 e Aerotec A-122B Uirapuru.

Embora, obviamente, sofra algumas restrições no que se refere ao disputado espaço aéreo carioca, o Aeroclube demonstra que superou as enormes dificuldades que encontrou no decorrer do tempo e mantém a tradiçao e a honra de ser o primeiro aeroclube brasileiro, já perto de completar 100 anos de existência.

4 comentários:

  1. ARQUIVO DA AVIAÇÃO.
    Olá colegas e seguidores da aviação. Gostaria de pedir a todos que seguissem meu Blog: www.arquivodaaviacao.blogspot.com - Um Blog feito com o respeito e profissionalismo que a aviação merece. Obrigado a todos.

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  2. Olá, Jonas! Estou desenvolvendo uma pesquisa sobre aeroclubes e gostaria de saber, se possivel, quais as suas referencias bibliograficas para a escrita deste texto, pois gostaria de citá-los em meu trabalho. Desde já, agradeço.

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  3. No dia 18/09/2017 a Infraero, em uma ação na surdina e aproveitando o dia que o Aeroclube do Brasil fica fechado, tomou os hangares e a sede, trocando as fechaduras e tomando o espaço.
    Um dia triste para a aviação. Através de uma ação judicial, a Infraero ignora o papel histórico e de formação de pilotos a custos mais baixos e expulsa o Aeroclube mais antigo do Brasil que é obrigado a fechar suas atividades.

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  4. durante toda esta semana, acompanhei a retomada do espaço do Aeroclube do Brasil pela Infraero, um passado lindo que está ficando para tráz, muito triste, isso prova mais uma vez que nosso País não preserva sua memória

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