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segunda-feira, 15 de março de 2010

"Eu comandei o ataque a Pearl Harbor"

Capitão-de-mar e guerra Mitsuo Fuchida, da antiga Marinha Imperial Japonesa

"Desejamos que o senhor comande a nossa força aérea, na hipótese atacarmos Pearl Harbor".
Fiquei quase sem fôlego. Era em fins de setembro de 1941 e, se a situação internacional continuasse a agravar-se, o plano de ataque teria de ser executado em dezembro. Não havia tempo a perder no treinamento para essa importantíssima missão.

Em meados de novembro, após o mais rigoroso treinamento, foram levados os aviões para bordo dos respectivos porta-aviões que, a seguir, aproaram para as ilhas Curilas, viajando isolados e seguindo rotas diferentes para não despertar atenção. Depois, às seis horas da manhã, uma manhã escura e nublada, em 26 de novembro, nossa força-tarefa de 28 navios, incluindo seis navios aeródromos, deixou as Curilas.
O Vice-Almirante Nagumo comandava a Força de Ataque a Pearl Harbor. As instruções por ele recebidas diziam: "No caso de as negociações com os Estados Unidos chegarem a conlusão satisfatória, a força-tarefa regressará imediatamente à pátria". Desconhecendo o fato, entretanto, as tripulações, lançando o que talvez fosse o seu último olhar ao Japão, gritavam: "Banzai!" Podia-se perceber seu ardente entusiasmo e espírito combativo. Malgrado isso, eu não podia deixar de alimentar dúvidas quanto à confiança com que o Japão se lançava à guerra.
Nossa rota deveria passar entre as ilhas Aleutas e a Ilha de Midway, de maneira a ficar fora do alcance das patrulhas aéreas americanas que, em alguns casos, segundo se supunha, abrangiam uma extensão de mil quilômetros. Enviamos à frente três submarinos para informar da presença de quaisquer navios mercantes, a fim de podermos alterar a rota e evitá-los. Mantínhamos um alerta permanente contra submarinos americanos.
Nossos rádios permaneciam em absoluto silêncio, mas ouvíamos as transmissões de Tóquio e Honolulu, procurando algumas palavras sobre o início da guerra. Em Tóquio, uma conferência de coordenação do governo e do Alto Comando estêve em sessão, diariamente, de 27 a 30 de novmebro, para discutir a proposta feita pelos Estados Unidos no dia 26. Chegou-se à conclusão de que a proposta era um ultimato destinado a subjugar o Japão e a tornar a guerra inevitável, mas que se deveria prosseguir nos esforços pela paz até o último momento.

A decisão em favor da guerra foi tomada na Conferência Imperial realizada a 1º de dezembro. No dia seguinte, o Estado Maior Geral deu a ordem: "O dia do ataque será 8 de desembro" (7 de dezembro no Havaí e nos Estados Unidos). A sorte estava lançada, rumamos diretamente para Pearl Harbor.
Por que foi escolhido aquele domingo para o ataque? Porque estávamos informados de que a Esquadra Americana regressava a Pearl Harbor nos fins de semana, após um período de instrução no mar. E também porque o ataque deveria ser coordenado com nossas operações na Malaca, onde estavam previstos ataques e desembarques aéreos para a madrugada daquele dia.

De Tóquio, foram-nos retransmitidos relatórios do Serviço de Informações sobre as atividades da Esquadra Norte Americana: "7 de dezembro (6 de dezembro, hora do Havaí): Não há balões nem redes antitorpedo em torno dos encouraçados fundeados em Pearl Harbor. Todos os encouraçados estão na baía. Não há indicações, na atividade do rádio inimigo, de que estejam sendo feitos voos de patrulha oceânica na região do Havaí. O Lexington deixou o porto ontem. Supõe-se que o Enterprise também esteja operando."

Nessa ocasião é que recebemos a mensagem do Almirante Yamamoto: "O apogeu ou declínio do Império depende desta batalha; todos devem dar o máximo de seu esforço no cumprimento do dever."

Estávamos a 230 milhas ao norte de Oahu, onde está situada Pearl Harbor, pouco antes do alvorecer de 7 de dezembro (hora do Havaí), quando os navios-aeródromos manobraram na direção do vento nordeste. A bandeira de combate tremulava no topo de cada mastro. O mar estava muito agitado, o que nos fez hesitar quanto à decolagem no escuro. Achei que era viável. Os conveses de voo vibraram com o ronco dos aviões acabando de aquecer.

Uma lâmpada verde foi agitada em círculos. "Decolar!". O rugido do motor do primeiro caça foi crescendo até que ele se elevou no ar, são e salvo. Havia grande aclamação toda vez que um avião decolava.
Dentro de 15 minutos, 183 caças, bombardeiros e torpdeiros tinham decolado dos seus navios-aeródromos e estavam entrando em formação no céu ainda escuro, guiados apenas pelas luzes de sinalização dos aviões-guias. Após circularmos por cima da esquadra, tomamos a rota do sul, para Pearl Harbor. Eram 6:15.

Sob meu comando imediato havia 49 aviões de bombardeio horizontal. À minha direita e um pouco abaixo estavam 40 aviões torpedeiros; à minha esquerda, cerca de 200 metros acima, 51 bombardeiros de mergulho; protegendo a formação, havia 43 caças.
às 7:00 calculei que deveríamos chegar a Oahu em menos de uma hora. Mas, voando por cima de espessas nuvens, não víamos a superfície do mar e, portanto, não podíamos controlar nossa deriva. Liguei o radiogoniômetro para a estação de Honolulu e não tardei a ouvir música. Girando a antena, encontrei a direção exata de onde vinha a transmissão, e corrigi a nossa rota. Tivéramos uma deriva de cinco graus.

Ouvi então um boletim meteorológico de Honolulu: "Nublado em parte, principalmente sobre as montanhas. Boa visibilidade. Vento norte, 10 nós."

Que sorte a nossa! Não se poderia ter imaginado situação mais favorável. Devia haver brechas nas nuvens sobre a ilha.

Cerca de 7:30 as nuvens se abriram de repente e apareceu uma longa linha branca de litoral. Estávamos sobre a extremidade norte de Oahu. Era hora de desdobrarmos a nossa formação.

Chegou um relatório de um dos dois aviões de reconhecimento que tinha ido à frente, dando a localização de dez encouraçados, um cruzador pesado e dez cruzadores leve. O céu ia ficando mais limpo à proporção que avançávamos para o alvo, e comecei a estudar nossos objetivos com o auxílio do binóculo. Os navios estavam lá. "Dê ordem de ataque a todos os aviões", ordenei ao meu radioperador. Eram 7:49.
As primeiras bombas caíram no aeródromo de Hickam, onde havia fileiras de bombardeiros pesados. Os pontos atingidos a seguir foram a Ilha Ford e o aeródromo de Wheeler. Em pouco tempo, imensos rolos de fumaça subiam dessas bases.
Meu grupo de bombardeio horizontal manteve-se a leste de Oahu, para lá da extremidade sul da ilha. No ar só havia aviões japoneses. Os navios, na baía, pareciam ainda adormecidos. A estação de rádio de Honolulu continuava normalmente a sua transmissão. Conseguíramos a surpresa!
Sabendo que o Estado Maior devia estar ansioso, ordenei que fosse enviada à esquadra a seguinte mensagem: "Conseguimos realizar ataque de surpresa. Peço retransmitir esta informação para Tóquio".

Começaram a aparecer esguichos de água ao longo dos encouraçados. Eram os nossos aviões torpedeiros em ação. Era tempo de desencadearmos nossos bombardeios horizontais. Ordenei ao meu piloto que inclinasse o avião abruptamente. Era o sinal de ataque para o nosso grupo. Os meus dez esquadrões formaram em coluna por um, com intervalos de 200 metros, uma bela formação.

Enquanto meu grupo fazia a corrida para o bombardeio, a artilharia antiaérea americana, tanto de bordo dos navios como das baterias de terra, entrou subitamente em ação. Aqui e ali viam-se explosões de cor cinza escura, até que o céu se encheu de abalos de tiros quase certeiros que faziam o nosso avião estremecer. Fiquei surpreendido com a rapidez do contra-ataque, que veio menos de cinco minutos depois de lançada a primeira bomba. A reação japonesa não teria sido tão pronta - o caráter japonês é apropriado à ofensiva, mas não se ajusta facilmente à defensiva.
Meu esquadrão dirigia-se para o Nevada, que estava fundeado na extremidade norte do Cais dos Encouraçados, na parte leste da Ilha Ford. Estava quase no momento de soltar as bombas quando penetramos numa formaçaão de nuvens. Nosso bombardeador-guia abanou as mãos para trás e para a frente, para indicar que teríamos de passar "em branco", e demos uma volta sobre Honolulu para aguardar outra oportunidade. Nesse ínterim, outros esquadrões fizeram suas corridas, tendo alguns realizados três tentativas antes de lograrem êxito.

Repentinamente, colossãl explosão verificou-se no CAis dos Encouraçados. Uma imensa coluna de fumaça negro-avermelhada se elevou as uns 300 metros, e uma violenta onda de choque atingiu o nosso avião. Devia ter explodido um paiol de pólvora. O ataque estava no auge; a fumaça dos incêndios e explosões enchia quase todo o céu sobre Pearl Harbor.
Observando com o binóculo o Cais dos Encouraçados, vi que a grande explosão havia sido no Arizona. Este continuava ardendo violentamente, e como a fumaça encobria o Nevada, alvo do meu grupo, procurei outro navio para atacar. O Tennessee já estava pegando fogo, mas junto dele estava o Maryland. Dei ordem para mudar, tomando o Maryland como alvo, e voamos em direção ao fogo anti-aéreo.

Quando o piloto do nosso avião-guia lançou sua bomba, os pilotos, observadores e radioperadores dos demais aviões gritaram "Lançar!" e lá se foram as nossas bombas. Imediatamente me deitei de bruços no chão para observar através de uma fresta. Quatro bombas, formando um desenho perfeitamente simétrico, caíam a prumo como demônios da destruição. Foram diminuindo de tamanho até se transformarem em quatro pontinhos, e finalmente desapareceram dando lugar a quatro minúsculos clarões no navio e perto dele.

De grande altitude, os tiros perdidos são mais perceptíveis que os impactos diretos, pois produzem ondas circulares na água, fáceis de ver. Percebendo duas dessas ondas e mais dois pequenos clarões, bradei: "Dois certeiros!" Tive a convicção de havíamos produzido danos consideráveis. Dei ordem aos bombardeiros que haviam completado suas missões para que regressassem ao porta-aviões. O meu, porém, permaneceu sobre Pearl Harbor para observar e dirigir as operações ainda em curso.
Pearl Harbor e arredores estavam convertidos num caos. O Utah havia emborcado. O West Virginia e o Oklahoma, com os cascos quase arrancados pelos torpedos, adernavam perigosamente em meia a uma inundação de óleo grosso. O Arizona estava muito adernado e ardia furiosamente. Os encouraçados Maryland e Tennessee ardiam também. O Pennsylvania, que estava no dique, ficara intacto - evidentementre o único encouraçado que não fora atacado.
Durante o ataque, muitos dos nossos notaram os valentes esforços dos pilotos americanos para decolar com seus aviões. Apesar da grande inferioridade numérica, voaram diretamente sobre nossos aparelhos para travar combate. Os resultados foram ínfimos, mas sua coragem impôs admiração e respeito.
Os aviões do nosso primeiro ataque levaram uma hora para concluir sua missão. Quando iniciaram o regresso aos navios aeródromos, após terem perdido três caças, um bombardeiro de mergulho e cinco aviões torpedeiros, entrou em cena nossa segunda vaga de 171 aviões.

O céu agora estava tão coberto de nuvens e de fumaça que era impossível localizar os alvos. Para dificultar ainda mais a missão, o fogo da artilharia anti-aérea, naval e terrestre, tornara-se intensíssimo.

O segundo ataque conseguiu excelente dispersão, atingindo os couraçados menos danificados, bem como os cruzadores e contratorpedeiros não atingidos anteriormente. Durou também cerca de uam hora, mas, em virtude da intensificação do fogo da defesa, houve novas baixas: seis caças e 14 bombardeiros de mergulho.
Depois que a segunda onda iniciou a viagem de retorno ao navios-aeródromos, dei novamente uma volta sobre Pearl Harbor para observar e fotografar os resultados. Contei quatro encouraçadaos definitivamente afundados, três seriamente avariados. Outro encouraçado parecia consideravelmente desmantelado, e haviam sido destruídos numerosos navios de outros tipos. A base de hidroaviões da Ilha Ford estava presa das chamas, bem como os aeródromos, especialmente o de Wheeler.
Densa cortina de fumaça tornava impossível determinar os estragos sofridos pelos aeródromos. Era evidente, todavia, que boa percentagem do poderio aéreo da ilha fora destruído: nas três horas em que meu aviões permaneceu naquela região não encontramos um único avião inimigo. No entanto, vários hangares estavam ilesos, e era possível que alguns deles contivessem aviões utilizáveis.

Meu avião foi o último a voltar para a esquadra, onde os outros aparelhos, reabastecidos e rearmados, estavam-se alinhando, preparando-se para outro ataque. Fui chamado sem demora à ponte de comando. O estado-maior do Almirante Nagumo, enquanto aguardava meu relatório, estivera entretido em uma discussão intensa sobre a conveniência de lançar novo ataque.

- Quatro encouraçados positivamente afundados - informei. - Alcançamos elevado grau de destruição nas base aéreas e nos aeródromos. Há, contudo, muitos alvos ainda por atingir.
Insisti por novo ataque. O Almirante Nagumo, porém - numa decisão que desde então tem sido alvo de muita crítica por parte dos peritos navais - preferiu voltar à base. Imediatamente foram alçadas as bandeirolas de sinais e nossos navios aproaram para o norte a grande velocidade.

(Compilação de Roger Pineau - Seleções do Reader Digest: A história secreta da Guerra - 1962).

Um comentário:

  1. Um interessante relato pode ser visto em "Yamamoto", Agawa, Ed. Letras, que mostra o ataque a Pearl Harbor sob a visão japonesa. Note-se que o Comandante-Chefe da Marinha Japonesa, Almirante Yamamoto, era um entusiasta da aviação, sendo um dos raros oficiais-senior navais a possui brevê de piloto-aviador.

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