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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

História do F-BVFD: o único Concorde sucateado

Em 26 de novembro de 2003, o jato comercial supersônico Concorde fez o seu último voo. Pouco tempo antes, as operações comerciais tinham sido encerradas tanto pela British Airways quanto pela Air France.
O F-BVFD, operacional, no Aeroporto Charles de Gaulle
O acidente do F-BTSC em 25 de julho de 2000, e os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, praticamente tornaram inviável a continuidade dos serviços comerciais supersônicos. Era o fim de uma era.

De todos os Concordes fabricados, 20 no total, 18 foram preservados e estão espalhados pelo mundo em museus, assim como o seu mock-up original.

O destino dos dois Concordes restantes, ambos operados pela Air France, é conhecido: um é o F-BTSC, que se acidentou logo após a decolagem em 2000; o outro é o F-BFVD, que foi desmontado no Aeroporto Charles De Gaulle em 1994.
O triste fim do F-BVFD
O que levou o F-BFVD ao ferro-velho tão prematuramente? A resposta a essa pergunta está no fracasso da primeira linha operada pelo Concorde pela Air France, que ligava Paris ao Rio de Janeiro, com escala técnica em Dakar, inaugurada em 21 de janeiro de 1976.
Desmonte do F-BVFD, em novembro de 1994
O Brasil, em 1982, sofria uma crise econômica profunda. Era o ocaso do Governo Militar, e o Brasil sofria as consequências do Segundo Choque do Petróleo, de 1979, uma dívida externa praticamente impagável, inflação galopante e recessão econômica. O turismo também estava em baixa, e os voos do Concorde ligando Paris ao Rio não alcançavam ocupação que justificasse os elevados custos de operação.
A aeronave em 21 de março de 1985, em CDG, já completamente canibalizada
Em 1982, após seis anos de operações, a Air France suspendeu a operação regular do Concorde para o Rio de Janeiro. Com isso, parte da frota ficou ociosa, e foi retirada de serviço temporariamente. As duas aeronaves desativadas foram justamente o F-BTSC e o F-BFVD. O F-BVFD fez seu último voo em 27 de maio de 1982, e passou a ser canibalizado, fornecendo peças de reposição aos Concorde remanescentes em serviço.

O F-BTSC posteriormente voltou ao serviço, quando outras aeronaves tiveram que passar por checks pesados. Todavia, o F-BVFD jamais voltaria a voar novamente. Foi paralisado quando tinha 5814 horas de voo, 1929 pousos e 1807 ciclos supersônicos.

A Air France tinha vendido praticamente todos os instrumentos e componentes do cockpit do F-BFVD, para a British Airways, que foram usados para recondicionar o G-BOAG.

Embora a ausência do cockpit fosse um sério empecilho à volta do F-BVFD ao serviço, o que determinou o seu fim foi a constatação, em 1994, que o avião, armazenado ao ar livre durante 12 anos, estava com problemas de corrosão muito sérios, que demandariam reparos custosos e absolutamente inviáveis do ponto de vista econômico.
a Air France decidiu, então desmantelar o avião e vendê-lo como sucata, já que a maioria dos seus componentes mais úteis já haviam sido removidos e aproveitados em outras aeronaves.
A seção do nariz foi cuidadosamente cortada e vendida a um milionário americano, por 300 mil Francos, equivalente a cerca de 46 mil Euros atuais. Esta seção, que incluía o nariz móvel, no entanto, estava incompleta, sem instrumentos, assentos, revestimentos e janelas. Era apenas uma triste estrutura oca.

O restante foi cortado com serras mecânicas e vendido aos pedaços, um triste destino para uma aeronave tão marcante na história da aviação.
Restos da fuselagem do F-BVFD
Não se conhece o destino do nariz do Concorde, nem quem foi o comprador. O Blog "Cultura Aeronáutica" agradece quem puder fornecer informações a respeito.
O nariz foi vendido por 300 mil Francos
A única parte talvez ainda remanescente do F-BVFD é uma seção de fuselagem, na junção da mesma com o bordo de ataque da asa, preservada em um ferro-velho de Dugny, nas proximidades do Aeroporto de Le Bourget, em Paris. Há indícios de que essa seção atualmente encontra-se ao ar livre em uma área do Aeroporto, a espera de um destino mais digno.
 
A história operacional completa do F-BVFD está resumida abaixo:

O F-BVFD, c/n 211, fez seu primeiro voo, em Toulouse, no dia 10 de fevereiro de 1977, e logo a seguir foi entregue para a Air France. Em novembro de 1977, o avião sofreu um sério incidente ao fazer um pouso "duro" em Dakar, no Senegal, ao tocar a pista a 14 pés/segundo de razão de descida, quando o limite era de 10 pés/segundo. Nesse incidente, o avião bateu a cauda no chão violentamente, esmagando o amortecedor na cauda, que se destinava a evitar maiores danos à estrutura do avião com o nariz muito alto, no solo.
Amortecedor na cauda do Concorde
O incidente de Dakar pode ter sido determinante para o avião ser escolhido para ser desativado, 5 anos depois, pois comprometeu seriamente a sua estrutura.

Em 12 de janeiro de 1979, foi matriculado na FAA nos Estados Unidos, como N94FD, quando a Air France passou a fazer operações conjuntas com a Braniff. Nessa época, o avião operava entre Dallas-Forth Worth e Washington-Dulles, com tripulação americana, e depois prosseguia para a Europa com tripulantes franceses.

Nenhum dos Concordes operados pela Braniff ostentou a pintura dessa empresa, embora existam representações artísticas do avião com o esquema Braniff, como se pode ver na foto abaixo.
Os voos com a Braniff cedo se mostraram inviáveis, com apenas 20 por cento de ocupação no trecho americano, subsônico por questões legais, e a matrícula americana foi cancelada em 1º de junho de 1980, voltando o avião a ser registrado na França no F-BVFD.

Com a desativação da linha Paris-Rio de Janeiro, o avião foi paralisado em 27 de maio de 1982, ficando em uma área remota da Air France no Aeroporto Charles de Gaulle. Aos poucos, seus componentes foram sendo retirados para servir outras aeronaves da frota, ou vendidos para a British Airways.
Em 1994, após ser constatada severa corrosão, a Air France desmontou o avião. Nessa época, a fuselagem já estava praticamente oca de equipamentos, sem poltronas, revestimentos, lavatórios e cockpit. Em 16 de março de 1995, a seção do nariz foi vendida para um milionário americano anônimo.

10 comentários:

  1. Maquinário esse ein Jonas.
    Quando ele ultrapassava a barreira do som era sentido algo pelos pax?

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  2. Thiago, os passageiros não sentiam vibração, trancos, sons, nada! Mas existiam telas dentro do avião que mostravam a velocidade da aeronave e o momento em que ela ultrapassava a velocidade do som, o que era sempre um momento marcante e comemorado alegremente a bordo.

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  3. Parece que lá na Inglaterra estão restaurando o G-BOAC e corre rumores que ele voltará a voar!

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    Respostas
    1. Houve restauro para exibição. Jamais haverá retomada de vôos do Concorde. A tecnologia desses aviões era incrível em 1969. Era impraticável economicamente em 2011 e continua assim em 2023

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  4. Jonas, dê uma olhada nestes links quando puder:
    http://cavacchini.blogspot.com/2011/09/como-ja-disse-diversas-vezes-aqui-neste.html

    http://cavacchini.blogspot.com/2011/01/o-ano-e-1939-o-mundo-esta-em-guerra.html

    Abraço!

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  5. pô...estamos ha um mes sem postagens novas !

    Este é meu blog favorito, mande mais !

    =)

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  6. Caro rbnotto, sentimos muito pela demora, mas vc sabe que até nós precisamos de umas férias de vez em quando. Mas hoje publiquei um novo artigo, confira. Obrigado pelas visitas frequentes ao blog.

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  7. É triste ver esse avião indo assim :/

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  8. Tenho uma foto minha posando no acento do copiloto dessa aeronave no aeroporto do Galeão RJ, na década de 80.

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