
Alberto Santos Dumont, devido às suas experiências com dirígiveis, estava bastante familiarizado com a maioria dos motores disponíveis na época. Quando resolveu abandonar os aerostatos e construir um avião, chegou à conclusão que o melhor motor disponível era o Antoinette V-8, então utilizado em velozes lanchas de corrida.
Esse motor foi criado por Léon Levasseur, e batizado de Antoinette em homenagem a uma formosa senhorita, Antoinette Gastambide, filha de seu patrono. Léon imitou assim Gottlieb Daimler, que batizou seus carros e motores de Mercedes em homenagem a outra formosa senhorita, Mercedes Jellineck.
O motor Antoinette foi utilizado pela primeira vez em um barco em 1905. Era um motor de 8 cilindros em "V" de 90º, com 24 HP de potência a 1.400 RPM. Esse motor reunia características muito avançadas para a época: o cárter era construído em alumínio fundido, com os cilindros individuais em aço, e a alimentação era do tipo injeção direta de combustível, que era cuidadosamente filtrado, fornecido em alta pressão e dosado precisamente para cada cilindro.

O 14Bis utilizou o motor Antoinette de 50 HP em todos os seus voos, inclusive o voo pioneiro de 23 de outubro de 1906, até ser destruído em um acidente no pouso em Saint-Cyr em 4 de abril de 1907.
Santos-Dumont tentou instalar o motor Antoinette de 24 HP. rejeitado no 14Bis, no Demoiselle nº 19, mas a aeronave nunca conseguiu voar nessa configuração. Entretanto, é mais provável que a hélice, construída em uma armação de alumínio entelada com seda, tenha sido a responsável pelo péssimo desempenho da aeronave. A aerodinâmica das hélices, nessa época, era incipiente, e era provavelmente mais responsável pela ineficiência dos grupos motopropulsores do que os motores. A hélice do 14Bis, por exemplo, assemelhava-se mais a remos de caiaque, e desperdiçava muita potência do motor.
Levasseur construiu posteriormente um motor V-16 de 100 HP, unindo dois blocos do Antoinette de 8 cilindros. Santos-Dumont utilizou esse motor em uma reconstrução do seu avião nº 15, que tinha se acidentado em seu primeiro teste de voo. Esse nº 15 reconstruído recebeu a denominação de nº 17. O motor Antoinette V-16 recebeu uma hélice tripá de madeira.
O avião nº 17, entretanto, foi desativado antes de ser testado, pois Santos-Dumont foi desafiado por seu amigo Charron, em um jantar no restaurante Maxim's, a alcançar a velocidade de 100 Km na água. Santos-Dumont aceitou a aposta, removeu o motor Antoinette V-16 e sua hélice do nº 17 e construiu o Santos-Dumont nº 18, um tipo de aerobarco (foto abaixo). Essa engenhoca, entretanto, tendia a afundar a proa quando o motor era acionado na potência máxima, e Santos-Dumont perdeu a aposta.

Até que enfim leio alguma coisa substancial sobre o motor Antoinette, o mais importante dos primórdios da aviação. É de importância estelar que se disponha de um motor eficiente para que um aeródino decole por meios próprios. Algo que, provavelmente os Srs. Wright não souberam teorizar ao instalar um motor em um planador... Também sempre considerei as hélices daquele período objetos "ridículos", completamente desvinculadas com o avanço obtido na área de motores. Parabéns, Prof. Jonas. Excelente artigo!
ResponderExcluirAo prof Jonas
ResponderExcluirParabéns pelo artigo, pela primeira vez ví uma boa foto do motor do 14 bis.
Eu já lí tudo que pude a respeito do Santos Dummont.
Tenho uma informação diferente a respeito do desenvolvimento desse motor.
O petit Santos teria testado primeiro o motor de 23 Hp que seria um quatro cilindros e ao constatar que a potência era insuficiente , pediu ao Levasseur que usasse dois motores juntos dando assim a idéia para o primeiro V8 da história.
Sei que muitas informações e livros da época contém erros. Você poderia me informar onde conseguiu essas fotos ? Gostaria de pesquisar mais sobre esse começo da aviação inclusive conseguir mais informações a respeito de um carburador confiável que Santos Dummont teria desenvolvido ao colocar os primeiros motores em dirigíveis, visando obter uma marcha lenta estável e uma aceleração suave sem emissão de fagulhas.
Meu email: kerkalianer@gmail.com
Obrigado, Walter Reis.
Muitas dessas informações errôneas sobre o motor do 14 bis vem de publicações de Gondim da Fonseca, o primeiro biógrafo de Santos-Dumont. A bem da verdade o Antoinette V8 já tinha sido criado por Levavasseur em 1903, mas somente em 1905 atingiu seu estado de perfeição. Mesmo a versão V8 de 24 hp já chegou a ser utilizada em outros aviões da época, como o Bleriot IV bis, que se utilizou de 2 desses motores em vez de 1 de 50hp.
ExcluirComo é bom passear nos tempos antigos! este artigo me fez dar literalmente uma viajada nessas época , fico grato pelo trabalho de vocês.
ResponderExcluirEsta é a diferença Wright x Dumont.
ResponderExcluirHoje sabemos que para alçar vôo na experimental a relação peso/potência é de no máximo 10 kg x hp.
Flyer 28 kg/hp vôo impossível.
14 bis 5 kg/hp ( os filmes são testemunhas..... )
A diferença é que nessa época os franceses eram mais avançados em tecnologia de motores que os americanos.
ExcluirEsta é a diferença Wright x Dumont.
ResponderExcluirHoje sabemos que para alçar vôo na experimental a relação peso/potência é de no máximo 10 kg x hp.
Flyer 28 kg/hp vôo impossível.
14 bis 5 kg/hp ( os filmes são testemunhas..... )
Excelente matéria ! Prabéns !!!
ResponderExcluirA grande sacada dos Wright foram os ailerons que permitiram manobrar os aeródinos. O artigo é muito elucidativo e os comentários também.
ResponderExcluirParabéns pela lucidez do artigo .adorei a leitura consistente .
ResponderExcluirSempre aprendendo, sempre me aperfeiçoando.Parabéns ao autor e aos que o seguem c grandes informações complementares
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