

O Boeing 737 chamou a atenção de vários operadores pelo mundo afora, inclusive da brasileira VASP, então uma empresa estatal pertencente ao Governo do Estado de São Paulo. À época, o Governo Federal, controlado pelos militares, intervia pesadamente na administração das empresas aéreas brasileiras. O antigo DAC - Departamento de Aviação Civil tinha um representante na diretoria de cada empresa aérea, com poder de veto. A aquisição do Boeing 737 pela VASP foi vetada, uma vez que, segundo a política vigente no DAC, somente a VARIG tinha o privilégio de adquirir jatos da Boeing. A VASP, sem outra alternativa, resolveu adquirir dois aviões BAC 1-11, jatos britânicos de menor capacidade e desempenho, mas não desistiu dos 737.
O Boeing 737 não chamou inicialmente a atenção da Varig, que resolveu adquirir, para as linhas domésticas, os modelos 727-100. Devido a esse desinteresse, e depois de muita negociação política, a VASP obteve finalmente sinal verde para trazer os 737-200 ao Brasil.

Os 737 da VASP inauguraram uma nova era na aviação comercial brasileira. Os antigos aviões de motor a pistão e grande parte dos turbo-hélice em uso foram rapidamente retirados de serviço, e os 737-200 rapidamente se revelaram um grande sucesso. A VARIG logo sentiu a necessidade de encomendar aviões do mesmo tipo, mas que começaram a ser entregues apenas em 1974.

O PP-SMA foi um dos jatos mais intensamente usados na aviação comercial brasileira, e deteve, até ser desativado, o recorde de aeronave que por mais tempo voou no mundo em uma única empresa aérea, mais de 35 anos de serviço contínuo, sendo posteriormente ultrapassado nessa marca pelo 727-100 CP-861, do Loyd Aéreo Boliviano. Foi presença constante em todos os aeroportos em que a VASP operava no Brasil. Os mecânicos da empresa tinham um carinho especial por essa aeronave, que nunca sofreu acidentes ou incidentes graves durante toda a sua longa carreira.
Dos quatro Boeing 737 iniciais da VASP, o PP-SMB operava como cargueiro puro, e o PP-SMD foi vendido em 1974. Os PP-SMA e PP-SMC sempre operaram linhas de passageiros durante toda a sua carreira na VASP.
Devido às dezenas de milhares de ciclos voados, os 737 iniciais da VASP receberam muitos reforços estruturais na fuselagem, que foram acrescentando peso e reduzindo o desempenho e rentabilidade dos aviões, ainda mais levando-se em consideração que esse modelos iniciais eram equipados com motores Pratt & Whitney JT-8D-9, menos potente que os usados nos Advanced.
Apesar disso, o valente PP-SMA esteve em serviço de modo praticamente contínuo nas linhas da VASP. Nos últimos anos de operação, foi equipado com confortáveis poltronas de couro legítimo. Embora fosse muito antigo, era bem mais confortável que os Boeing 737NG atualmente operados na aviação comercial brasileira, com pitch entre poltronas mais generoso. Só perdia em conforto para seus irmãos mais novos em termos de ruído interno, especialmente nas poltronas situadas na parte traseira da aeronave.
Em setembro de 2004, o Departamento de Aviação Civil determinou a suspensão dos voos de oito aeronaves da VASP, os PP-SMA, PP-SMB, PP-SMC, PP-SMP, PP-SMQ, PP-SMR, PP-SMS e PP-SMT, por motivos de segurança, até que a empresa cumprisse todas a AD (Airworthiness Directives - Diretrizes de Aeronavegabilidade) estabelecidas pelo fabricante. Já em situação muito difícil, a VASP não tinha condições de gastar tanto dinheiro em aeronaves com vida útil praticamente esgotada, e resolveu canibalizar as células desse aviões para manter os 737 Advanced voando.
O PP-SMA foi rebocado para uma área remota do Aeroporto de Confins, e teve sua pintura, motores, assentos e peças removidos. Na fuselagem oca, restam pintados apenas uma bandeira do Brasil e a matrícula PP-SMA.

Em junho de 2009, a massa falida da VASP realizou um leilão de bens da empresa, e o PP-SMA foi oferecido à venda no lote 20, como sucata, não obtendo, no entanto, nenhum lance.
Nas condições em que se encontra atualmente, não existe nenhuma chance da aeronave voar novamente, ainda que seja reequipada com motores e outros componentes necessários. O PP-SMA foi aposentado com mais de 89 mil horas de voo, e não foi o mais voado na empresa, pois o PP-SMS voou bem mais do isso. Seu destino mais provável é ser desmanchado como sucata, pois está longe dos museus que poderiam preservá-lo. O Museu da TAM já manifestou interesse e negocia a compra de um Boeing 737-200 da VASP para preservar no seu museu em São Carlos, nas cores originais com que esses aviões vieram ao Brasil, mas optou por uma das células abandonadas atualmente em Congonhas.
Enquanto não decidem seu destino, o PP-SMA, o primeiro dos muitos Boeing 737 operados no Brasil, jaz silencionsamente cercado pelo mato no Aeroporto de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte. Mas, apesar de tudo, seu lugar está garantido na história da aviação brasileira para sempre.
Olá! Muito legal seu blog sobre aviação... meu parabéns. abrços
ResponderExcluirNão sabia... Muito bem redigido...Parabéns!
ResponderExcluirSó a Varig podia aquirir aviões da Boeing??? haverá no mundo algo mais idiota que um militar? Só dois militares...
ResponderExcluirOlá! O senhor sabe qual foi a empresa que recebeu o primeiro 737-300 no Brasil? Obrigado!
ResponderExcluirEste avião tem uma história maravilhosa dentro da aviação, não merecia um fim desse, queria eu poder comprá-la e reformá-la e colocar em um lugar onde todos tivessem acesso a este maravilhoso ícone da aviação mundial, um abraço à todos.
ResponderExcluirHoje ele está sendo reformado e em breve será um restaurante no Mercadão Internacional de Lagoa Santa, próximo ao CNF.
ExcluirGrande Jonas.
ResponderExcluirO PP-SMB encontra-se preservado no interior de MG, em Nanuque, próximo ao Aeroporto.
https://www.trekearth.com/gallery/South_America/Brazil/photo1593182.htm
Abraço.
estes 737 da VASP durante uma epoca tinham nome de estados do BR - alguem sabe onde acho uma lista sigla do avião (estou atrás do PP SMP especificamente) qual estado nomeava o mesmo?
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