"Desejamos que o senhor comande a nossa força aérea, na hipótese atacarmos Pearl Harbor".
Fiquei quase sem fôlego. Era em fins de setembro de 1941 e, se a situação internacional continuasse a agravar-se, o plano de ataque teria de ser executado em dezembro. Não havia tempo a perder no treinamento para essa importantíssima missão.
Em meados de novembro, após o mais rigoroso treinamento, foram levados os aviões para bordo dos respectivos porta-aviões que, a seguir, aproaram para as ilhas Curilas, viajando isolados e seguindo rotas diferentes para não despertar atenção. Depois, às seis horas da manhã, uma manhã escura e nublada, em 26 de novembro, nossa força-tarefa de 28 navios, incluindo seis navios aeródromos, deixou as Curilas.



A decisão em favor da guerra foi tomada na Conferência Imperial realizada a 1º de dezembro. No dia seguinte, o Estado Maior Geral deu a ordem: "O dia do ataque será 8 de desembro" (7 de dezembro no Havaí e nos Estados Unidos). A sorte estava lançada, rumamos diretamente para Pearl Harbor.

De Tóquio, foram-nos retransmitidos relatórios do Serviço de Informações sobre as atividades da Esquadra Norte Americana: "7 de dezembro (6 de dezembro, hora do Havaí): Não há balões nem redes antitorpedo em torno dos encouraçados fundeados em Pearl Harbor. Todos os encouraçados estão na baía. Não há indicações, na atividade do rádio inimigo, de que estejam sendo feitos voos de patrulha oceânica na região do Havaí. O Lexington deixou o porto ontem. Supõe-se que o Enterprise também esteja operando."
Nessa ocasião é que recebemos a mensagem do Almirante Yamamoto: "O apogeu ou declínio do Império depende desta batalha; todos devem dar o máximo de seu esforço no cumprimento do dever."
Estávamos a 230 milhas ao norte de Oahu, onde está situada Pearl Harbor, pouco antes do alvorecer de 7 de dezembro (hora do Havaí), quando os navios-aeródromos manobraram na direção do vento nordeste. A bandeira de combate tremulava no topo de cada mastro. O mar estava muito agitado, o que nos fez hesitar quanto à decolagem no escuro. Achei que era viável. Os conveses de voo vibraram com o ronco dos aviões acabando de aquecer.
Uma lâmpada verde foi agitada em círculos. "Decolar!". O rugido do motor do primeiro caça foi crescendo até que ele se elevou no ar, são e salvo. Havia grande aclamação toda vez que um avião decolava.

Sob meu comando imediato havia 49 aviões de bombardeio horizontal. À minha direita e um pouco abaixo estavam 40 aviões torpedeiros; à minha esquerda, cerca de 200 metros acima, 51 bombardeiros de mergulho; protegendo a formação, havia 43 caças.

Ouvi então um boletim meteorológico de Honolulu: "Nublado em parte, principalmente sobre as montanhas. Boa visibilidade. Vento norte, 10 nós."
Que sorte a nossa! Não se poderia ter imaginado situação mais favorável. Devia haver brechas nas nuvens sobre a ilha.
Cerca de 7:30 as nuvens se abriram de repente e apareceu uma longa linha branca de litoral. Estávamos sobre a extremidade norte de Oahu. Era hora de desdobrarmos a nossa formação.
Chegou um relatório de um dos dois aviões de reconhecimento que tinha ido à frente, dando a localização de dez encouraçados, um cruzador pesado e dez cruzadores leve. O céu ia ficando mais limpo à proporção que avançávamos para o alvo, e comecei a estudar nossos objetivos com o auxílio do binóculo. Os navios estavam lá. "Dê ordem de ataque a todos os aviões", ordenei ao meu radioperador. Eram 7:49.



Começaram a aparecer esguichos de água ao longo dos encouraçados. Eram os nossos aviões torpedeiros em ação. Era tempo de desencadearmos nossos bombardeios horizontais. Ordenei ao meu piloto que inclinasse o avião abruptamente. Era o sinal de ataque para o nosso grupo. Os meus dez esquadrões formaram em coluna por um, com intervalos de 200 metros, uma bela formação.
Enquanto meu grupo fazia a corrida para o bombardeio, a artilharia antiaérea americana, tanto de bordo dos navios como das baterias de terra, entrou subitamente em ação. Aqui e ali viam-se explosões de cor cinza escura, até que o céu se encheu de abalos de tiros quase certeiros que faziam o nosso avião estremecer. Fiquei surpreendido com a rapidez do contra-ataque, que veio menos de cinco minutos depois de lançada a primeira bomba. A reação japonesa não teria sido tão pronta - o caráter japonês é apropriado à ofensiva, mas não se ajusta facilmente à defensiva.

Repentinamente, colossãl explosão verificou-se no CAis dos Encouraçados. Uma imensa coluna de fumaça negro-avermelhada se elevou as uns 300 metros, e uma violenta onda de choque atingiu o nosso avião. Devia ter explodido um paiol de pólvora. O ataque estava no auge; a fumaça dos incêndios e explosões enchia quase todo o céu sobre Pearl Harbor.

Quando o piloto do nosso avião-guia lançou sua bomba, os pilotos, observadores e radioperadores dos demais aviões gritaram "Lançar!" e lá se foram as nossas bombas. Imediatamente me deitei de bruços no chão para observar através de uma fresta. Quatro bombas, formando um desenho perfeitamente simétrico, caíam a prumo como demônios da destruição. Foram diminuindo de tamanho até se transformarem em quatro pontinhos, e finalmente desapareceram dando lugar a quatro minúsculos clarões no navio e perto dele.
De grande altitude, os tiros perdidos são mais perceptíveis que os impactos diretos, pois produzem ondas circulares na água, fáceis de ver. Percebendo duas dessas ondas e mais dois pequenos clarões, bradei: "Dois certeiros!" Tive a convicção de havíamos produzido danos consideráveis. Dei ordem aos bombardeiros que haviam completado suas missões para que regressassem ao porta-aviões. O meu, porém, permaneceu sobre Pearl Harbor para observar e dirigir as operações ainda em curso.



O céu agora estava tão coberto de nuvens e de fumaça que era impossível localizar os alvos. Para dificultar ainda mais a missão, o fogo da artilharia anti-aérea, naval e terrestre, tornara-se intensíssimo.
O segundo ataque conseguiu excelente dispersão, atingindo os couraçados menos danificados, bem como os cruzadores e contratorpedeiros não atingidos anteriormente. Durou também cerca de uam hora, mas, em virtude da intensificação do fogo da defesa, houve novas baixas: seis caças e 14 bombardeiros de mergulho.


Meu avião foi o último a voltar para a esquadra, onde os outros aparelhos, reabastecidos e rearmados, estavam-se alinhando, preparando-se para outro ataque. Fui chamado sem demora à ponte de comando. O estado-maior do Almirante Nagumo, enquanto aguardava meu relatório, estivera entretido em uma discussão intensa sobre a conveniência de lançar novo ataque.
- Quatro encouraçados positivamente afundados - informei. - Alcançamos elevado grau de destruição nas base aéreas e nos aeródromos. Há, contudo, muitos alvos ainda por atingir.

(Compilação de Roger Pineau - Seleções do Reader Digest: A história secreta da Guerra - 1962).
Um interessante relato pode ser visto em "Yamamoto", Agawa, Ed. Letras, que mostra o ataque a Pearl Harbor sob a visão japonesa. Note-se que o Comandante-Chefe da Marinha Japonesa, Almirante Yamamoto, era um entusiasta da aviação, sendo um dos raros oficiais-senior navais a possui brevê de piloto-aviador.
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