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terça-feira, 29 de junho de 2010

Yokosuka Ohka: o avião-foguete suicida japonês

Em meados do ano de 1944, os japoneses envolvidos na Segunda Guerra Mundial, no Teatro de Operações do Pacífico, já tinham perdido quase toda a iniciativa. Boa parte da sua frota já estava no fundo do mar, inclusive vários navios-aeródromos. Enquanto isso, a indústria americana fornecia, a cada dia, novos navios e milhares de aviões para suas tropas.

Em junho de 1944, os americanos lançaram ataques praticamente simultâneos contra as Ilhas Marianas e contra as Filipinas. Nas Filipinas, os japoneses podiam ainda oferecer uma certa resistência, já que ainda dispunham de cinco grandes porta-aviões, quatro porta-aviões ligeiros e cinco encouraçados. Entretanto, os americanos concentraram uma frota muito mais poderosa, integrada por porta-aviões das novas classes Essex e Independence, 15 ao todo, mais sete encouraçados novos e rápidos.

A superioridade americana era ainda mais gritante no ar. Enquanto os japoneses tinham perdido quase todos os seus melhores pilotos nas batalhas anteriores, os americanos podiam colocar em combate milhares de novos pilotos altamente treinados, além de uma nova geração de aeronaves de combate.

A Batalha das Filipinas acabaria se tornando a maior batalha aeronaval de todos os tempos, mas ficou conhecida entre os pilotos americanos como "O Grande Tiro ao Patos das Marianas", pela facilidade com que os pilotos japoneses e seus antiquados aviões foram derrubados.

Durante a Batalha das Filipinas, alguns pilotos japoneses atiraram seus aviões deliberadamente contra navios de guerra americanos, mais por desespero do que por uma ação planejada. Entretanto, após perder a batalha, o Almirante Takijiro Onishi, vice-chefe do Estado Maior da Marinha, criou um programa de ataques suicidas, que foi denominado Kamikaze, palavra japonesa que quer dizer "Vento Divino", numa alusão aos tufões que dispersaram invasões mongóis ao Japão entre 1274 e 1281.

Os pilotos Kamikazes tinham apenas um treinamento sumário e empregavam aviões de todo tipo, principalmente caças Mitsubishi A6M Zero, disponíveis em grande quantidade, mas já superados por caças americanos mais modernos, como os Grumman F-6F Hellcat e Vought F-4U Corsair.

Em 1945, os japoneses criaram um tipo de aeronave especialmente construído para missões suicidas. Era, na verdade, um míssil de cruzeiro tripulado, lançado da barriga de bombardeiros Mitsubishi G-4M "Betty" (foto abaixo) ou Yokosuka P1Y Ginga "Frances". Essa aeronave foi denominada Yokosuka MXY-7 Ohka ("flor de cerejeira")

Os Ohka foram lançados em várias versões, mas a única operacional foi o Tipo -11. Era essencialmente uma bomba de 1200 Kg, com asas de madeira, propulsionada por três motores a foguete de combustível sólido, que proporcionavam grande velocidade, mas com autonomia extremamente limitada. Uma vez ligados, os motores não mais podiam ser desligados, e a alta velocidade praticamente impedia abortar a missão, uma vez que ela começava. As capotas dos cockpits muitas vezes eram parafusadas por fora, impossibilitando totalmente o salvamento do piloto depois que ele era lançado.

Cada Ohka Tipo -11 tinha 6,10 metros de comprimento por 5,1 metros de envergadura e 1,20 metro de altura. Eram propulsionados por 3 motores a foguete de 587 lbf de empuxo cada um, que podiam levar a aeronave a 500 MPH nivelado ou 650 MPH em mergulho. O alcance era muito baixo, apenas 36 Km. O único armamento era a ogiva de 1200 Kg de Ammonal, alto explosivo composto de nitrato de amônia, TNT e pó de alumínio.

As aeronaves eram problemáticas, exigindo que os bombardeiros lançadores se aproximassem nivelados até cerca de 20 milhas náuticas dos alvos, tornando-os presas fáceis para os caças de escolta americanos. Esse fato limitou muito a eficiência dos Ohka, e, de fato, apenas sete navios americanos foram danificados ou afundados por essa arma. Segundo os pilotos americanos, atirar em um bombardeiro "Betty" carregando um Ohka na barriga era tão fácil quanto atirar em um alvo parado.

O primeiro ataque dos Ohka ocorreu em 21 de março de 1945, quando 16 bombardeiros "Betty", carregando um Ohka cada um, foram lançados contra o Grupo-Tarefa 58.1 da Marinha Americana, apoiados por mais dois "Betty", encarregados da navegação e da observação, e escoltados por 55 Zeros. Devido a problemas técnicos, 25 dos Zeros tiveram que abortar, sendo que alguns nem sequer chegaram a decolar. Dezesseis caças americanos F-6F Hellcat interceptaram os bombardeiros japoneses, que tiveram que ejetar seus Ohka para tentar escapar. Mesmo assim, todos os "Betty" foram abatidos, todos os pilotos suicidas morreram, nenhum navio foi atacado e apenas 15 Zeros danificados sobreviveram.

Em abril de 1945, em uma série de ataques, os Ohka finalmente atingiram alguns alvos, incluindo o encouraçado USS West Virginia, que teve uma das suas torres de canhões de 16 polegadas danificada. A maioria das ações em abril ocorreu ao largo de Okinawa. Além do West Virginia, nenhum outro navio capital ou porta-aviões foi atingido, e todas as baixas consistiram de destróieres, caça-minas ou navios de desembarque. O primeiro navio americano afundado pelos Ohka foi o destróier Mannert L. Abele (DD-733), em 12 de abril de 1945 (foto abaixo).


Os ataques em maio e junho de 1945 foram bem mais improdutivos. mas um Ohka conseguiu danificar irreparavelmente o destróier Hugh W. Hadley (DD-774), a última vítima fatal dos aviões-foguetes japoneses, em 11 de maio de 1945. Os ataques foram rareando, pois as bases terrestres dos "Betty" foram tomadas pelos americanos, e, na verdade, poucos "Betty" sobreviveram às missões dos Ohka. A última missão foi feita em 22 de junho, mas nenhum alvo chegou a ser atacado, e apenas dois "Betty" sobreviveram à missão, dos seis lançados contra os americanos.

Algumas variantes dos Ohka foram construídas, como o Tipo -21, equipado com asas metálicas (um construído), o Tipo -22, equipado com motor termojato (tipo Campini), o Tipo -33, equipado com um motor turbojato Ishikawajima Ne-20. Outros modelos podiam ser lançados de submarinos, como o Tipo -43A, ou de cavernas, como o Tipo -43B, ambos equipados com motores turbojatos. Nenhuma dessas variantes chegou a entrar em serviço ativo. Aeronaves de treinamento Kugisho/Yokosuka "Ohka" K-1 e K-1 Kai também foram construídas. Os K-1 eram simples planadores e estavam equipados com trens de pouso do tipo esqui (foto abaixo). A versão K-1 Kai era equipada com foguetes de pequeno empuxo.

Por ocasião da rendição do Japão em agosto de 1945, vários Ohka foram capturadas pelas tropas americanas, e pelo menos 13, das cerca de 850 aeronaves produzidas, ainda existem hoje em museus nos Estados Unidos, Grã Bretanha e Índia.

Os americanos apelidaram os Ohka de "Baka", expressão japonesa que significa "tolo", mas, na verdade, essas bombas suicidas, devido à sua própria natureza, causaram profundo impacto moral nos americanos, dando a impressão de que seria preciso matar todos os japoneses para vencê-los. A explosão das bombas atômicas no Japão, em agosto de 1945, foi muito festejada pelos americanos, pois salvou-os da terrível carnificina que os esperava quando invadissem o território do Japão Metropolitano, a partir de novembro.

3 comentários:

  1. Concordo com suas palavra "A explosão das bombas atômicas no Japão, em agosto de 1945, foi muito festejada pelos americanos, pois salvou-os da terrível carnificina que os esperava quando invadissem o território do Japão Metropolitano, a partir de novembro" os japoneses são um povo guerreiro e não seria na fácil vence los e impossível obter uma rendição sem destruir aquilo que eles lutavam para proteger!
    Parabéns pelo artigo, um ótimo trabalho!

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  2. Ser guerreiro é uma coisa ... associar isso a tolice é outra. Estavam lutando por uma causa perdida e sacrificavam suas vidas pelo Imperador ... em que ocasião a vida do Imperador era mais valiosa que as dos que morreram por ele? Deveriam ter se rendido antes de ter pago um alto preço por nada.

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  3. Meus parabéns ao professor Jonas pelo excelente artigo!

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