Uma grande tragédia abalou o mundo no dia 1º de setembro de 1983: um Boeing 747 da Korean Airlines, que voava de Nova York para Seul, foi abatido por um caça soviético quando sobrevoava, por engano, o território russo.
O fatídico voo começou no Aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, pouco antes da meia-noite de 30 de agosto de 1983. Era um Boeing 747-230B, fabricado em 1971 e matriculado HL-7442. Embarcaram 246 passageiros e 23 tripulantes. A aeronave pousou no Aeroporto Ted Stevens, em Anchorage, no Alaska, para reabastecer, e decolou novamente às 05 horas, hora local, 13:00 UTC, em direção ao Aeroporto Internacional Kimpo, em Seul. O voo até Seul era comandado pelo experiente Comandante Chun Byung-in.
Após a decolagem, a tripulação recebeu orientação do ATC para tomar a proa magnética 220. O VOR de Anchorage não estava operacional, pois passava por uma manutenção de rotina. Logo depois, recebeu autorização para voar direto para o VORTAC Bethel. Após Bethel, o 747 deveria entrar na Aerovia Romeo-20, uma das cinco grandes (50 milhas náuticas de largura) aerovias que atravessam o Pacífico Norte da América do Norte para o Extremo Oriente.
A tripulação deveria engajar, no piloto automático, o modo INS (Inertial Navigation System), que faria o avião seguir uma rota de Círculo Máximo (ortodrômica) para Seul. Mas os pilotos colocaram a aeronave para voar no modo HDG (Heading = proa), que faria a aeronave manter uma proa magnética praticamente constante de 245 graus após Bethel, o que teve o efeito prático de desviar o curso do voo para a direita, ao Norte.
Inacreditavelmente, os pilotos deixaram a aeronave manter a proa 245 no modo HDG por cinco horas e meia, sem selecionar o modo INS para seguir a rota planejada, e o avião, voando bem ao norte, acabou se desviando cada vez mais da sua rota planejada e passou a sobrevoar, inadvertidamente, a inóspita mas altamente protegida Península de Kamchatka, território soviético repleto de instalações militares estratégicas, pela sua proximidade com a América do Norte.
À época, havia um recrudescimento da Guerra Fria, e aeronaves de reconhecimento RC-135 americanas costumavam sobrevoar a área para observar e "testar" as defesas anti-aéreas russas. Os radares soviéticos de Kamchatka não demoraram a detectar o 747 da Korean, e interpretaram o eco como sendo, possivelmente, um RC-135 americano potencialmente hostil. Em termos práticos, isso seria bem possível, já que o RC-135 é bem semelhante em configuração ao Boeing 747: ambos são quadrimotores, de asas enflechadas e de grande porte.
Os russos soaram o alarme, ativando unidades de caça Sukhoi Su-15 e Mikoyan Mig-23 próximas. Dois Su-15 (foto abaixo) da base aérea de Dolinsk-Sokol interceptaram o avião. Um piloto de Su-15 avistou o Boeing 747, reportou ter avistado a aeronave, e recebeu ordens para atirar. Disparou dois mísseis ar-ar Kaliningrad K-8, que atingiram o 747 e o derrubaram. O piloto do Sukhoi, Gennadi Osipovich, declarou depois que tinha dado tiros de advertência antes de disparar os mísseis, mas sua alegações nunca puderam ser comprovadas. O Boeing 747 da Korean caiu em espiral no mar, a 55 milhas de distância da ilha de Moneron, a sudoeste de Sakhalin, às 18:27 GMT de 1º de setembro. Nenhum dos 269 ocupantes da aeronave sobreviveu.
O fato logo ganhou status de grande crise internacional: O Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, acusou os soviéticos de cometerem um crime internacional, e um ato de barbarismo desumano contra o jato coreano. O incidente azedou de vez as relações entre os americanos e os soviéticos, pelos três anos seguintes
Logo se levantou a suspeita de que os coreanos invadiram o espaço aéreo proibido de Kamchatka propositalmente. Afinal, havia um antecedente, pois cinco anos antes, em 1978, um Boeing 707 da Korean invadiu o espaço aéreo da Peninsula de Kola, no Oceano Ártico, e foi alvejado por caças soviéticos, pousando em emergência em um lago congelado e vitimando dois passageiros. Praticamente todos os pilotos da Korean eram ex-pilotos militares, o que aumentava as suspeitas de que o piloto do KAL-007 estava em uma missão de espionagem disfarçada de voo comercial.
Os russo recuperaram as caixas-pretas do KAL 007, mas mantiveram o fato em segredo até que, muitos anos depois da queda do regime soviético, o Presidente da Rússia Bóris Yeltsin as entregou às autoridades coreanas. As caixas pretas acabaram revelando o erro de navegação.
Os russos se defenderam, alegando ter tentado estabelecer contato com o 747 por rádio e não obtiveram resposta. Nenhuma transmissão russa foi ouvida pelas aeronaves ocidentais que voavam na área, entretanto. O piloto do Sukhoi afirmou ainda que avistou a aeronave, e a identificou como sendo um avião EC-135 ou RC-135, que são versões militares do Boeing 707, bastante semelhantes ao Boeing 747, especialmente se vistos de trás ou de baixo. O piloto russo declarou, também, que desconhecia quase completamente as aeronaves comerciais americanas.
É importante notar que, no dia anterior ao incidente, um RC-135 americano tinha efetuado uma missão na região, deixando os militares russos em alerta. E, ainda, o 747 da Koren estava fazendo um step-climb quando foi interceptado, mudando o nível de voo para 4 mil pés acima, o que foi interpretado pelo piloto russo como uma "manobra de evasão".
Depois da tragédia, o Presidente Reagan tomou a decisão de disponibilizar o sistema de navegação por satélites GPS - Global Positioning System para aeronaves civis, assim que o sistema estive totalmente concluído, pois um sistema assim poderia, sem dúvida, ter evitado o erro de navegação que acabou provocando o abate do KAL 007.
Fotos: Airliners.net, Wikipedia, Revista Time.
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Muito bom !!
ResponderExcluirPra mim foi uma tentativa frustada dos EUA de poder voar espaço aéreo Soviético e colher informações mascarados,já que a Coréia do sul tem fortes vínculos com a américa.
ResponderExcluirEsses americanos querem passar ao mundo que são fortes e invensíveis,mas não conseguem nem sequer resolver seus problemas cotidianos.
Ultimamente isto tem diminuído um pouco depois do fim da guerra fria.
Também tenho essa mesma impressão.Se foi isso mesmo, não pensaram nem um segundo nas vidas dos civis a bordo.
ExcluirTambém tenho essa mesma impressão.Se foi isso mesmo, não pensaram nem um segundo nas vidas dos civis a bordo.
ExcluirA Coréia é um satélite político dos EUA e estes jogaram poquer: duvidavam que os russos iriam abater um avião "de passageiros". Os russos fizeram muito bem, pois se o avião passasse as fronteiras do país iriam se tornar "casa da sogra". Depois desse vôo de espionagem, quantos vôos "comerciais" coreanos estiveram com rota errada ???
ResponderExcluirJAC. 21 de novembro de 2015 - Os americanos dão uma de santinhos mas usaram um avião comercial, com propina para a tripulação para testar as defesas soviéticas. Se o espaço aéreo americano for invadido eles farão o mesmo!
ResponderExcluirO es-presidente Nixon ia viajar neste avião. Mas o Serviço Secreto descobriu que se tratava de uma missão de espionagem e a contrainteligência soviética tinha sido alertada. Nixon não embarcou naquele voo.
ExcluirOnde escrevi es-presidente, leia-se ex-presidente. teclado maluco e cadeira muito alta.
ExcluirOnde escrevi es-presidente, leia-se ex-presidente. teclado maluco e cadeira muito alta.
ExcluirO es-presidente Nixon ia viajar neste avião. Mas o Serviço Secreto descobriu que se tratava de uma missão de espionagem e a contrainteligência soviética tinha sido alertada. Nixon não embarcou naquele voo.
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