Os Convair B-36 Peacemakers marcaram época nos anos 1950 como bombardeiros estratégicos americanos. Substituídos por aeronaves a jato mais eficientes, como os Boeing B-47 Stratojet e os B-52 Stratofortress, os B-36 foram aposentados em fevereiro de 1959.
Embora nenhum B-36 tenha voado após essa data, alguns de seus componentes chegaram a ser usados em outros veículos. É o caso dos seus motores turbojatos General Eletric J-47 GE-19, de 5.200 libras de empuxo.
Esse motores eram utilizados nos B-36 como motores auxiliares, complementando os seis enormes motores a pistão Pratt & Whitney R4360. Os B-36, especialmente os modelos B-36D e B-36J, tinham quatro desses motores, montados em dois pods duplos na ponta de cada uma das asas.
Em 1966, a New York Central Railroad, uma ferrovia baseada na cidade de Nova York, resolveu utilizar um desses pods completo, com dois motores J-47, retirados da sucata de um B-36, em uma automotriz Budd RDC-3 a diesel (comumente chamada no Brasil de Litorina).
Uma velha automotriz, com 13 anos de uso, a M-497, foi escolhida como protótipo, e equipada com os dois turbojatos acima da cabine dianteira. À frente normal da automotriz foi acrescentado um nariz aerodinâmico, pintado de preto, que deu à velha M-497 um aspecto incomum e quase sinistro. Esse nariz aerodinâmico valeu à M-497 o apelido de Black Beetle (Besouro Preto).
O trem a jato foi testado no trecho de ferrovia entre Butler, Indiana, e Stryker, Ohio. Esse trecho foi escolhido por ser quase reto, sem curvas de pequeno raio, e por ter ótimas condições de conservação. A linha não recebeu nenhuma modificação especial para a realização do teste.
Tecnicamente, o teste foi um sucesso, e a M-497 conseguiu bater um recorde até hoje não superado, para trens de passageiros leves nos Estados Unidos: 183 MPH (296 Km/h), o triplo da sua velocidade habitual como automotriz a diesel.
Supõe-se que a experiência teve o caráter de golpe publicitário, pois o veículo não era viável economicamente, devido ao enorme consumo de combustível dos turbojatos. A construção do protótipo, entretanto, foi pouco custosa, por empregar motores de aeronave já sucateada, e já obsoletos na época, em um veículo já bastante usado.
O grande ruído produzido pelos motores a jato também não seria adequado para um trem de passageiros trafegando em áreas povoadas.
Depois de algumas experiências, a Black Beetle teve os seus turbojatos e o nariz aerodinâmico removidos, e voltou ao serviço como automotriz normal, movida a diesel. Foi retirada de serviço muitos anos depois e sucateada somente em 1984.
Muito bacana este artigo. Já viajei em um trem parecido no Brasil, entre BH e Rio. Sabe alguma coisa a respeito de onde as automotrizes rodaram no Brasil? A mais famosa Litorina que tenho notícia é a da serra do Mar no Paraná. Abraços
ResponderExcluirFernando, vc deve ter viajado em uma litorina igual a essa, na bitola larga da antiga EF Central do Brasil. Eram litorinas Budd idênticas a esse modelo. A MRS Logística ainda utiliza uma delas no transporte de executivos. Quanto às litorinas do Paraná, são modelos Budd também, mas de outro modelo e outra bitola, são Pionner III da bitola de 1 metro. Ainda estão ativas na Serra do Mar.
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