Em 1961, após um longo tempo de prosperidade na aviação brasileira, nuvens negras se avizinhavam no horizonte. Ainda assim, as várias empresas aéreas brasileiras levavam a frente seus planos de expansão, e a REAL não foi exceção.
Rara foto colorida do DC-6B, nas cores da REAL |
Embora a REAL estive em sérios apuros financeiros, com grandes prejuízos acumulados ao longo de 1960, manteve seus planos de adquirir jatos, os Convair 880/990, e grandes turboélices quadrimotores, os Lockheed Electra.
Ainda com a matrícula original dinamarquesa, o primeiro DC-6B da REAL, parcialmente pintado nas cores da empresa e um tanto fora do padrão |
No início de 1961, a REAL fez sua última aquisição de aeronaves, um lote de cinco aeronaves Douglas DC-6B, exclusivos para passageiros. Eram aeronaves usadas, que vieram da empresa sueca SAS - Scandinavian Airlines System, e que voaram as pioneiras rotas polares regulares, através do Ártico, a partir de 1957, e da Northwest americana.
Os aviões foram matriculados no RAB como PP-YSI, PP-YSJ, PP-YSL, todos ex-SAS, e como PP-YSM e PP-YSN, ex- Northwest. Essas matrículas foram mantidas após a compra da REAL pela Varig.
Destinados a voar rotas domésticas de alta densidade, os DC-6B da REAL eram configurados para levar 80 passageiros, em configuração geral 3+2. Isso fazia sentido, já que a REAL era a empresa mais "popular" da época. No geral, as poltronas eram separadas longitudinalmente entre 36 e 38 polegadas, configuração apertada para a época, mas muito mais espaçosos que os aviões atuais.
Painel de um DC-6B americano |
Os DC-6B chegaram a operar para a REAL, ao invés dos Convair 990 e Electras, mas por muito pouco tempo. O recém empossado Presidente da República Jânio Quadros recomendou uma "racionalização" das linhas aéreas tão logo assumiu, e a Varig foi "convidada" pelo DAC a assumir 50 por cento do Consorcio REAL-Aerovias, o que aconteceu a 2 de maio de 1961. Em agosto, a Varig acabou adquirindo o restante, e a REAL acabou.
No negócio da aquisição da REAL, nasceu a maior empresa aérea brasileira. Mas, o DAC, em contrapartida, empurrou toda a enorme malha de linhas domésticas para a Varig, que foi obrigada a aproveitar a maior parte da heterogênea frota da REAL para o serviço.
O PP-YSN |
Os DC-6B foram muito úteis para essas rotas. Eram aeronaves fabricadas entre 1952 e 1953, mas tinham motores e hélices mais confiáveis que as dos Super Constellation. Os aviões foram colocados em serviço principalmente nas linhas que ligavam Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, enquanto os Constellations, e, depois, os Electras, voavam mais para as regiões Nordeste e Norte do país. Mas, os DC-6B da Varig, em certos momentos, voavam entre todas as principais capitais, de norte a sul
DC-6B pronto para o embarque, no Santos-Dumont, em 1966 |
Os DC-6B cumpriram bem o seu papel, durante o seu período na Varig, e voaram até 1968 sem acidentes. Pressurizados e relativamente rápidos, eram confortáveis, mesmo em configuração de alta densidade. Os pilotos apreciavam a qualidade de voo dos aviões, e os consideravam muito confiáveis. De fato, os DC-6 foram um dos aviões comerciais com motores a pistão de sobrevida mais longa no mundo.
Quando desativados pela Varig, os aviões, todos, estavam ainda em muito boas condições, e a FAB adquiriu todos os 5.
O FAB 2414 foi perdido num acidente em Manaus, em 1971 |
A FAB carecia de aeronaves de transporte de longo alcance, na época. Estava envolvida com as missões de paz na Faixa de Gaza e na República Dominicana, e utilizando os já muito cansados Boeing SB-17G, em detrimento da sua missão original, como aeronaves de aerofotogrametria e busca e salvamento. A FAB também precisava de aeronaves para manter suas linhas do Correio Aéreo Nacional para as Regiões Norte e Nordeste.
Os aviões, agora redesignados como C-118, e a FAB trocou suas matrículas para 2412 (ex-PP-YSI), 2413 (ex-PP-YSJ), 2414 (ex-PP-YSL), 2415 (ex-PP-YSM) e 2416 (ex-PP-YSN).
Sem porta de carga e configurados apenas para o transporte de passageiros, os C-118 foram alocados ao 2º/2º Grupo de Transporte, baseado no Galeão, no Rio de Janeiro.
O FAB 2415 já desativado e oferecido no mercado, no Galeão |
Na FAB, sem contar as missões em prol das ações internacionais em Gaza e República Dominicana, os C-118 foram empregados como aeronaves de passageiros do Sudeste para o Norte, principalmente em prol do Projeto Rondon. Nessa época, era muito comum a FAB transportar passageiros civis para o Norte, em prol dos projetos de desenvolvimento da Amazônia.
O FAB 2416 cumprindo uma missão de transporte na Argentina, em 1972 |
Em 28 de abril de 1971, o C-118 2414 sofreu o único acidente com Douglas DC-6 no Brasil: logo após decolar de Manaus, um dos motores do lado direito, o #3, apresentou forte vibração, e a tripulação optou por cortá-lo, e retornar. Durante a corrida de pouso, feito com sucesso, o motor avariado começou a pegar fogo, e a aeronave foi evacuada. Todavia, a aeronave acabou destruída. Apesar do pronto atendimento, 16 ocupantes acabaram por perder a vida nesse acidente.
Um dos ex-C-118 da FAB (PP-YSM) na Fuerza Aérea Paraguaya |
Em final de carreira, e já com muitas dificuldades de suprimento, a FAB paralisou o 2413, que foi usado como fonte de peças de reposição para os 3 aviões restantes, que foram sendo paralisados durante o início dos anos 70. Por fim, os 3 aviões foram colocados á venda no Galeão, e suas funções foram assumidas pelos Avro C-91, e, quando necessário, pelos Lockheed C-130.
À esquerda da foto, os três DC-6B e um Electra podem ser vistos, provavelmente já paralisados, em 1991 |
Em 1975, os 3 C-118 foram vendidos para a Força Aérea do Paraguai, e o que restou da célula do 2413 foi transformado em sucata. Todos operaram no Paraguai por muito tempo, mas, por volta de 1991, já pareciam estar inoperantes e estacionados em uma área gramada do Aeroporto de Assunção, sem motores, embora oficialmente ativos. Em 2001, foram definitivamente retirados de serviço e desmontados.
O cemitério dos DC-6B no Paraguai, nos anos 90 |
Infelizmente, nenhuma dessas aeronaves foi preservada.
AERONAVES DOUGLAS DC-6B/C-118 QUE OPERARAM NA REAL, VARIG E FAB (1961/1975)
PP-YSI (FAB 2412): c/n 44166/416. Fabricado em 1953. Entregue novo à SAS - Scandinavian Airlines System, como OY-KMI. Vendido à REAL-Aerovias em 1961, como PP-YSI, passou para a Varig em agosto de 1961 com todo o acervo da empresa. Retirado de serviço em 1968, vendido para a FAB, como 2412. Vendido depois para a FAP - Fuerza Aérea Paraguaya, em 1975, como 4003 - T-91. Abandonado e depois desmanchado no Aeroporto Silvio Pettirossi, em Assunção, Paraguai, m 2001.
PP-YSJ (FAB 2413): c/n 43745/296. Fabricado em 1952. Entregue novo à SAS - Scandinavian
Airlines System, como LN-LMO. Vendido à REAL-Aerovias em 1961, como
PP-YSJ, passou para a Varig em agosto de 1961 com todo o acervo da
empresa. Retirado de serviço em 1968, vendido para a FAB, como 2413. Retirado de serviço para canibalização no início dos anos 70.
PP-YSL (FAB 2414): c/n 43746/297. Fabricado em 1952. Entregue novo à SAS - Scandinavian
Airlines System, como LN-LMP. Vendido à REAL-Aerovias em 1961, como
PP-YSL, passou para a Varig em agosto de 1961 com todo o acervo da
empresa. Retirado de serviço em 1968, vendido para a FAB, como 2414. Acidentado com perda total em Manaus/AM, com 16 vítimas fatais, em 8 de abril de 1971.
Cemitério dos DC-6B no Paraguay |
PP-YSN (FAB 2416): c/n 438224/299. Fabricado em 1952. Entregue novo à Western Airlines, em
12/1952 como N91304. Retirado em 09/1958, foi para a Northwest com o
mesmo prefixo em 1959. Vendido à REAL-Aerovias em 08/1961, como
PP-YSN, passou para a Varig em agosto de 1961 com todo o acervo da
empresa. Retirado de serviço em 1968, vendido para a FAB, como 2416.
Vendido depois para a FAP - Fuerza Aérea Paraguaya, em 1975, como 4002 -
T-89. Retirado de uso e desmontado em 2001.
Os restos dos DC-6B aos poucos foram desaparecendo |
excelente artigo sobre o DC-6, professor, gostaria de sugerir 4 artigos:
ResponderExcluirA330 na TAM (PT-VMA,PT-MVB os gigantes de congonhas, PT-MVE presidencial),B757 na VARIG, A340-500 na TAM a curta carreira do aviao de maior autonomia a operar no Brasil e maiores avioes ao longo da historia da aviação comercial brasileira do dornier do j wal ao B777-300er. Não sei se me fiz entender.
B777-300er 2008-atualidade
A340-500 2007-2008
A330-200 2006-2007
B777-200er 2001-2006
MD11 1998-2001
B747-300 1994-1998
B747-400 1991-1994
B747-300 1985-1991
B747-200 1981-1985
DC10-30 1974-1981
e por ai vai .... ate o wal la em 1927.
Excelente artigo, professor. Mais um trabalho de pesquisa inestimável!
ResponderExcluirExcelente! Poderia lançar um livro com essas crónicas pois as pessoas estão se interessando cada vez mais por aviação.
ResponderExcluirProfessor, ja devo ter lido este blog inteiro umas 3 vezes.
ResponderExcluirParabéns (Mais uma vez) por tão vultuoso trabalho e muito obrigado por compartilhar essas informações conosco. Abraço.
Obrigado pela pesquisa professor!!! Uma ótima leitura!
ResponderExcluirGratidão pelo belissimo Artigo.
ResponderExcluirQue Deus o abençoe grandemente Prof.
A punheta pertence ao punheteiro sempre!
ResponderExcluirMeu pai querido e saudoso, Comandante Fulvio Riccioppo, ex caça da FAB e USAAF, foi um dos aviadores que foram buscar os aviões da SAS, na Suécia. Que geração de grandes pilotos! DEpois, no mesmo DC6B, ele foi um dos que planejaram e fizeram o voo até Tokio, via Hawaii e Wake Island. Repousa no céu, seu território mais tranquilo. Te amo, papai.
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