Até a década de 1930, todas as aeronaves comerciais voavam em baixas altitudes, para permitir aos passageiros respirar normalmente, sem o uso das máscaras de oxigênio então em uso em aeronaves militares. O voo em baixa altitude, porém, normalmente é bastante desconfortável, já que a aeronave está sujeita a turbulência térmica e mecânica, pela proximidade com o solo.
Os fabricantes de aeronaves então pesquisavam a possibilidade de fabricar uma cabine pressurizada, que permitiria ao avião voar acima das perturbações atmosféricas sem causar incovenientes aos ocupantes do avião, tanto passageiros quanto tripulantes. que poderiam voar sem qualquer incômodo, usando garrafas de oxigênio somente em caso de uma emergência que causasse a descompressão da cabine.
A Boeing saiu na dianteira: a partir de um bombardeiro de sua fabricação, o B-17C, construiu uma aeronave de passageiros pressurizada. As asas, motores, trens de pouso e empenagem eram do B-17C, mas uma cabine bastante espaçosa e aerodinâmica foi construída especialmente para a aeronave, permitindo levar cinco tripulantes e 33 passageiros a 20 mil pés de altitude, com um diferencial de pressão máximo de 2,5 PSI.
O aumento da complexidade dos sistemas forçou a Boeing a criar uma nova função a bordo, o Engenheiro de Vôo, ou FE (Flight Engineer), para evitar a sobrecarga de trabalho dos pilotos. Foi a primeira aeronave a ter esse tripulante no cockpit.
O desempenho da aeronave, de 4 motores, era bastante satisfatório e muito acima das aeronaves típicas da época, pois tinha velocidade de cruzeiro de 215 MPH a 10 mil pés. Entretanto, ao entrar em serviço, custava nada menos que 315 mil dólares, então uma quantia considerável. O custo operacional também era elevado, mas os passageiros apreciaram o conforto até então inédito de voar em grande altitude, acima da maior parte das nuvens e das turbulências a elas associadas.
A aeronave entrou em serviço em julho de 1940, época em que a Segunda Guerra Mundial já tomava conta da Europa, fato que priorizava a construção de aeronaves militares. De fato, apenas 10 Stratoliners foram construídos antes que a fabricação fosse interrompida e a linha de produção da Boeing passasse a produzir os necessários bombardeiros B-17. Isso foi vital especialmente depois que os Estados Unidos entraram na guerra, em 7 de dezembro de 1941, depois do ataque à Base Aeronaval de Pearl Harbor, no Hawaii. A produção do Stratoliner nunca mais seria retomada, já que a evolução tecnológica durante a guerra permitiu a fabricação de aeronaves bem mais evoluídas e de maior capacidade, depois do conflito. O modelo comercial que substituiu o Stratoliner na Boeing foi o problemático Boeing 377 Stratocruiser, cujo sucesso comercial ficou muito aquem dos concorrentes Lockheed Constellation e Douglas DC-6.
As 10 aeronaves produzidas, entretanto, tiveram uma vida útil movimentada. O protótipo, matriculado NX19901, acidentou-se em 1939. A Pan Am adquiriu 3 aeronaves, a TWA 5 e o empresário Howard Hughes 1, esse último em configuração executiva, o mais luxuoso avião executivo da sua era.
Durante a guerra, em 1942, as aeronaves da TWA foram requisitadas pelo Exército, e foram usadas como transportes militares C-75, servindo especificamente em voos transoceânicos entre Washington/DC e o Cairo, e entre New York e a Escócia. Foram os primeiros voos transatlânticos realizados por uma aeronave comercial de passageiros baseada em terra.
O Exército, ao retirar as aeronaves do serviço militar, enviou as células para a Boeing, onde foram totalmente retrofitadas com asas e motores de B-17G, bem melhores que os originais, além de uma completa suíte de aviônicos do Boeing B-29, a mais sofisticada aeronave militar da época. As aeronaves foram devolvidas, em ótimas condições, para a TWA, onde operaram até o começo da década de 1950.
Em 1951, a TWA vendeu seus Stratoliner para um operador francês, a Aigle Azur, e essas aeronaves foram depois vendidas para outro operador no Laos. Outras aeronaves foram operadas pela Haitian Air Force, do Haiti. A desativação final do tipo só ocorreu já na década de 1970.
Das 10 aeronaves fabricadas, existe apenas um remanescente, que fora operado pela Pan Am como NC19903. Essa aeronave foi restaurada em condições de voo e voava frequentemente até 2002, quando sofreu um acidente em Elliott Bay, Seattle, Washington, na qual a aeronave submergiu quase totalmente na baía. O avião foi recuperado e restaurado, mas em vista de sua condição histórica e sua raridade, foi transferido para o Museu Steven F. Udvar-Hazy Center, próximo ao Aeroporto Internacional Dulles, em Washington, DC, onde hoje está em exposição estática, nas cores originais da Pan Am (foto ao alto).
A aeronave executiva de Howard Hughes foi vendida para o magnata do petróleo Glen McCarthy, em 1949. Depois de aposentada, sua fuselagem foi transformada em um barco, que ainda sobrevive hoje na Flórida (foto abaixo).
O Boeing 307 Stratoliner tinha 22,6 metros de comprimento, 32,6 metros de envergadura e 6,3 metros de altura. O peso máximo de decolagem era pouco mais que 20 toneladas, e era propulsionado por quatro motores Wright R-1820-G102, radiais de 9 cilindros, que desenvolviam 1.100 HP cada, na configuração original e 1.200 HP nas versões remotorizadas pelo Exército antes da devolução das aeronaves para a TWA.
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Que idiotice se fez do avião !
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