A década de 1920 foi marcada pelas grandes travessias oceânicas, como a de Charles Lindbergh, sobre o Atlântico Norte, e a de João Ribeiro de Barros, sobre o Atlântico Sul. Um tipo de avião marcou essa era: o hidroavião italiano Savoia-Marchetti S-55. Essa versátil e confiável aeronave foi utilizada em vários voos através dos oceanos entre o final da década de 1920 e o início da década de 1930, por aviadores como Ribeiro de Barros, Francesco de Pinedo e Ítalo Balbo.
O S-55 foi projetado pelo engenheiro Alessandro Marchetti, e construído a partir de 1924 pelo fabricante Savóia-Marchetti. A aeronave desde cedo bateu vários recordes de velocidade, carga, altitude e distância, e mostrou-se extremamente versátil tanto para uso militar, como bombardeio e reconhecimento, quanto para uso civil, como correio e aeronave de busca e salvamento.
O desempenho da aeronave atraiu os grandes navegadores da época. O Conde Casagrande foi o primeiro a usar o avião com o objetivo de atravessar o Atlântico Sul, mas sua aventura acabou em Casablanca, no Marrocos. Ribeiro de Barros adquiriu, em 1926, a aeronave S-55 usada por Casagrande, com a intenção de voltar ao Brasil com ela. Como o avião estava avariado, ao repará-lo, com o auxílio do mecânico Vasco Cinquini, fez diversas modificações bem sucedidas para melhorar o alcance e a velocidade.
João Ribeiro de Barros e sua tripulação saíram de Gênova, Itália, com destino a Cabo Verde em 18 de outubro de 1926. Depois de várias peripécias, acabaram chegando no Arquipélago de Fernando de Noronha em 28 de abril de 1927, prosseguindo depois a viagem para várias cidades do litoral brasileiro, terminando a viagem em São Paulo. Seu reide merece um artigo à parte.
Ainda em 1927, o aviador italiano Francesco de Pinedo partiu de Gênova com um S-55 para um reide que percorreu as Américas do Sul e do Norte. Atravessou o Atlântico Sul, pousou em Fernando de Noronha, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo no Brasil, Buenos Aires na Argentina. De lá, prosseguiu para os Estados Unidos, atravessando a selva amazônica, um proeza sem precedentes. Seu raide, infelizmente, terminou em um incêndio no abastecimento em Lake Roosevelt, no Arizona, EUA, em 6 de abril de 1927.
Em 17 de dezembro de 1930, o aviador italiano Ítalo Balbo saiu de Orbetello, na Itália, para um reide que terminaria no Rio de Janeiro, em 15 de janeiro de 1931. Balbo comandou uma esquadrilha de nada menos que 14 aeronaves Savoia-Marchetti S-55 nesse reide. Onze dessas aeronaves chegaram ao seu destino, pois três se acidentaram durante a viagem, matando suas tripulações. Os aviadores voltaram à Itália de navio, e o governo brasileiro adquiriu as aeronaves, trocando-as por café, um excelente negócio, já que o governo estava com grandes estoques excedentes de café devido à Grande Depressão.
Balbo executaria ainda um grande reide com 24 S-55 saindo de Roma em direção à Century of Progress International Exposition, em Chicago, EUA, entre 1º de julho e 12 de agosto de 1933. Na ocasião, o ditador italiano Benito Mussolini doou à cidade de Chicago a Coluna de Óstia.
Os Savóia-Marchetti S-55 adquiridos pelo Governo Brasileiro foram repassados à Flotilha Mista Independente de Aviões de Patrulha, da Aviação Naval, e ficaram baseados no Galeão. Essas aeronaves entraram em combate durante a Revolução Constitucionalista de 1932. As 5 aeronaves remanescentes foram matriculadas de 1-P-4 a 1-P-8 em 1933 e finalmente desativadas pela Marinha em 1936.
Os S-55 foram utlizados por duas Companhias Aéreas italianas, a Aero Espresso Italiana e a Societá Aerea Mediterranea, e pela companhia soviética Aeroflot (foto abaixo). Seus usuários militares foram a Regia Aeronáutica Italiana e a Real Força Aérea Romena, além da Marinha do Brasil. Em 1945, os últimos S-55 foram finalmente aposentados.
O Savoia era um hidroavião monoplano, com dois cascos-fuselagem, inteiramente construído em madeira. Era propulsionado por dois motores Isotta-Fraschini Asso, de 12 cilindros em V e 880 HP cada um, instalados em tandem em uma única nacele localizada na linha central do avião, que moviam duas hélices de madeira de passo fixo. Levavam até 6 tripulantes.
A velocidade máxima do S-55 era 279 Km/h, e tinha autonomia de 4500 Km, um excepcional desempenho para sua época.
Cerca de 200 aeronaves S-55 foram fabricadas, mas apenas uma sobrevive até os dias de hoje: o Jahú, de João Ribeiro de Barros, foi preservado pela Fundação Santos Dumont, onde ficou muitos anos exposto no Museu de Aeronáutica, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Com o fechamento do museu, acabou ficando em péssimas condições de conservação. O avião acabou desmontado e levado para o Hangar da Polícia Militar de São Paulo, no Campo de Marte, e posteriormente para a empresa Helipark, de Carapicuíba, São Paulo, que restaurou primorosamente a aeronave. Hoje o Jahú está exposto no Museu Asas de Um Sonho, em São Carlos, São Paulo (foto acima).
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muito bom artigo ,historia de um Brasil de homens virtuosos , a preservação se torna essenial para resgate da honra e força que move uma nação.
ResponderExcluirA história nunca devera ser esquecida,bem hajam pelo trabalho.
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