O uso de balões livres no Brasil iniciou-se em 1867, pelo Exército Brasileiro, durante a Guerra do Paraguai. Eram utilizados para observar as linhas inimigas. Entretanto, durante a década de 1910 o Exército passou a utilizar aviões e os balões foram abandonados por completo durante mais de 60 anos.Um americano, Ed Yost, modernizou o conceito dos balões livres de ar quente por volta de 1960, introduzindo algumas melhorias importantes como o uso de envelopes de tecido sintético e maçaricos a gás propano para fornecer o ar quente necessário para a sustentação. A partir daí, o balonismo esportivo passou a ter muitos adeptos nos Estados Unidos.
Um industrial brasileiro, descendente de italianos, Victorio Truffi, desde criança era aficcionado por balões de ar quente, e fez vários balões juninos não tripulados. Chegou a colocar um gato siamês como tripulante de um desses balões. O voo foi razoavelmente bem sucedido, com exceção de uma queimadura no gato causado pela tocha do balão. Claro que tal proeza foi "premiada" com uma bela surra dada por sua mãe.
Victorio, entretanto, não desanimou dos balões. Durante a Segunda Guerra Mundial, estabeleceu um negócio de venda de rádios, que foi muito bem sucedido, pois o rádio tornou-se nessa época uma artigo de primeira necessidade da população, que queria saber as informações da guerra. O negócio evoluiu, em 1945, para uma fábrica de antenas.
A fábrica de Truffi ficou muito bem conceituada no mercado, e produziu as primeiras antenas telelescópicas elétricas do país. Com a renda proporcionada pela fábrica, Truffi, então com 57 anos de idade, viajou aos Estados Unidos em 1970 e pode tirar uma licença de balões livres de ar quente naquele país. Ao retornar, trouxe um balão e seu instrutor, Robert Rechs para sua cidade natal, Araraquara/SP.
Depois de montar seu balão, e efetuar alguns voos cativos, Truffi solicitou ao Centro Técnico Aeroespacial - CTA uma autorização para fazer vôos livres. Depois de alguns contratempos burocráticos, finalmente o CTA autorizou os voos livres e Victorio pode matricular sua aeronave no Registro Aeronáutico Brasileiro, como PP-ZBT.
Victorio Truffi e Robert Rechs realizaram o primeiro voo livre do ZBT em Araraquara no dia 20 de outubro de 1970. Poucos dias depois, no dia 25, decolou em um domingo com um repórter a bordo durante um jogo entre o time do São Paulo Sport Clube e Ferroviário de Araraquara. O balão quase que eclipsou o jogo e o balão passou a ser a principal atração, apesar do pouso meio desastrado a pouco mais de 500 metros do estádio.
Truffi passou cada vez mais tempo a se dedicar ao balonismo. Chegou a ter a maior frota particular de balões do mundo, 16 exemplares. Mudou-se para São Paulo e montou um clube de balonismo em um sítio de sua propriedade na cidade vizinha de Cotia, em 1975. Lá passou a ministrar aulas para outros entusiastas.
O esporte passou a se desenvolver tanto que o Ministério da Aeronáutica, em 1975, baseado nos regulamentos para balões da FAA trazidos por Truffi, começou a desenvolver o primeiro Regulamento Brasileiro para a prática do esporte e permitindo a licenciamento dos pilotos pelo DAC - Departamento de Aviação Civil, a partir de 1978.
A partir daí, o esporte cresceu muito, graças também ao patrocínio, permitido pelo DAC, de empresas, quer viram nos enormes balões um ótimo meio de publicidade, em vista da atenção que atraíam.
Em 1983, um balão azul de Truffi virou estrela de um programa infantil da Rede Globo, a Turma do Balão Mágico, e o próprio Truffi conduziu a atriz Simony e outras crianças a bordo na gravação da cena de entrada do programa.
Infelizmente, Victorio Truffi parou de voar em 1991 depois que um incêndio destruiu 12 de seus balões, inclusive o pioneiro PP-ZBT, que seria destinado ao Museu Aeroespacial - MUSAL, no Rio de Janeiro. Passou os seus últimos anos amargurado, mas foi ele que deu o impulso inicial ao mais seguro dos esportes aéreos do Brasil.
Esse blog foi criado para divulgar a cultura aeronáutica em geral, mas em especial do Brasil. Cliquem nas fotos para vê-las em melhor resolução, e não deixem de comentar e dar sugestões para o blog. Agradecemos a todos pela expressiva marca de QUATRO MILHÕES E QUATROCENTOS MIL PÁGINAS VISTAS alcançada em MAIO de 2024. Isso nos incentiva a buscar cada vez mais informações para os nossos leitores.
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No MUSAL, todo ano é realizado no dia 17 de outubro uma grande festa do qual faço parte administrando oficinas de pipas. Sugiro enviarem um e-mail ou ligarem para o Brigadeiro Bhering, sugerindo que em 2003 se faça uma festa de homenagem ao centenário do grande Truffi, um pioneiro, compremetendo-me a ajudar na estrutura do evento.
ResponderExcluirBom dia, o senhoor tem facebook, o Meu é Rodrigo Marques Caco Balloons
ExcluirQue linda história! É uma pena que nos negócios a história não teve um final feliz...Enquanto ele voava em seus balões a fábrica Truffi faliu e deixou seus funcionários sem seus direitos. Minha mãe morreu esperando o processo sair.
ResponderExcluircomentario infeliz o seu Thais aqui temos que relembrar o passado somente a história do balonismo pioneiro e não um desabafo frustado de uma pessoa que não viveu na epoca,tente não ser tão insencivel assim por favor, pois se tratava de uma epoca muito precaria as leis que favoreciam o empregado, enfim que Deus te ilumine e apague o que de ruim vc traz dessa epoca....
ExcluirTrabalhei na empresa truffi deste Senhor, infelizmente abriu falência na década de 90,deixando dezenas de pessoas desempregadas e sem receber seus direitos trabalhistas,eu sou uma das dezenas de trabalhadores que até hoje espera por seus direitos trabalhistas!!!��
ResponderExcluirFico triste por não terem mencionado pessoas importantes nessa trajetória, uma delas "Guiomar Amaral", que participou de tudo o que foi mencionado na historia do balão, o acompanhou até o ultimo momento de sua vida e mora até hoje no mesmo lugar onde tudo começou.
ResponderExcluirVoamos com Truffi em 25/04/87. Algumas fotos e um diploma me devolvem um pouco dessa linda experiencia!
ResponderExcluirGostei muito!!!!
ResponderExcluirMe lembro do sítio do seu Vitório trabalhei trabalhei para na empresa truffi trabalhei para também para o José Eduardo truffi tinha uma vontade imensa de voar nesses balões só que tomei outro rumo na vida outra profissão más sou grato a eles por ter me empregado que Deus abençoe sempre
ResponderExcluirQue historia!!!! Um filme dos trapalhões foi rodado nesse sitio.
ResponderExcluirAlguem sabe dizer em que bairro fica esse sitio? gostaria muito de passar em frente e ver como é hoje. Qm sabe foram até vizinhos dos meus pais e avós.
Olá, quero muito conhecer a sede da truffi, será que um dia séria possível. Meu nome é Lídia. Em 25/10/1970. Caiu um balão da Truffi em cima da plantação no sítio do meu pai em São Roque. Naquela época era a coisa mais fantástica que vi. E meu pai recebeu uma réplica do balão que guardo até hoje, eu tinha 4 anos. Está escrito 1°_ vôo em balão de ar quente. Na América do Sul Araraquara 25/10/70. Fico no aguardo. obrigada
ResponderExcluirE era um sonho da minha filha voar num balão 🎈🎈🎈🙌
ResponderExcluirSou um dos netos do principal piloto dos balões do Truffi. Infelizmente, a grandiosa chácara de Cotia está bem deteriorada, mas ainda conseguimos manter uma pequena parte dela conservada. Meu vô conta essas histórias dos balões com muita satisfação e lágrimas nos olhos.
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