A Beechcraft é um fabricante de aeronaves civis muito bem conceituado no mercado, e fabrica alguns dos mais famosos aviões leves do mundo, como o Bonanza, o Baron e o King Air.
Entretanto, como acontece com a maioria dos fabricante, projetou e fabricou algumas aeronaves que foram muito mal sucedidas no mercado, levando a enormes prejuízos. O maior desses fracassos foi o Starship.
A concepção original do Starship data de 1980, como Preliminar Design 330 (PD-330), refinado depois pelo projetista Burt Rutan como um elegante turbo-hélice de 6 a 8 lugares, de aparência futurista. A aeronave tinha uma configuração "canard", com dois motores Pratt & Whitney PT-6A na parte traseira da aeronave.
A idéia da Beech por trás do proejto Starship era a difícil tarefa de substituir o King Air, o turbo-hélice executivo mais bem sucedido do mundo. A Scaled Composites de Burt Rutan foi contratada para construir modelos em escala da futura aeronave e auxiliar no seu desenvolvimento. Rutan empregou no projeto sistemas avançados de desenho por computador, como o CATIA.
O primeiro modelo construído foi um protótipo em escala 85%, denominado Model 115, que voou pela primeira vez em agosto de 1983. Esse protótipo não tinha pressurização e nem aviônicos sofisticados, e foi usado apenas para testar os conceitos aerodinâmicos quase revolucionários da aeronave.
O primeiro protótipo em escala integral, denominado Model 2000, voou pela primeira vez em 15 de fevereiro de 1986. O projeto atrasou várias vezes, devido à natureza pouco convencional da aeronave, que utilizava materiais novos (fibras de carbono) na construção e pela aerodinâmica totalmente diferente das aeronaves até então produzidas pelo fabricante.
O Starship foi o primeiro avião certificado a utilizar maior quantidade de composites em lugar das tradicionais ligas de alumínio. Isso já era comum em aeronaves militares, mas não em aeronaves civis. Apesar de, teoricamente, os composites oferecerem maior leveza às estruturas, o peso final do Starship ultrapassou o peso-alvo de projeto.
Como uma aeronave "canard", o Starship demonstrou ser praticamente à prova de estol, já que os canards estolavam primeiro, evitando o estol das asas ao abaixar o nariz antes que isso acontecesse.
A aeronave foi equipada com uma suíte de aviônicos nunca vista antes em qualquer aeronave civil, com um painel "Glass Cockpit" Proline 4 AMS 850, de 16 CRTs da Collins, muito apropriada para o design futurista do avião.
O Starship, entretanto, tornou-se mais notável pelo enorme fracasso comercial. Somente 53 aeronaves foram fabricadas, e somente 10 foram vendidas. Os custos de desenvolvimentos, de 300 milhões de dólares, jamais seriam recuperados.
Diversas razões podem ser apontadas para um desempenho comercial tão ruim. Para começar, a aeronave tinha um preço muito alto, 3,9 milhões de dólares por aparelho, similar ao de jatos de capacidade semelhante, mas bem mais rápidos, como o Citation e o Learjet 31. Comparado a um concorrente turbo-hélice como o Piper Cheyenne, era mais lento e muito mais caro que esse, que era 1 milhão de dólares mais barato e tinha a mesma capacidade de carga paga.
Outros defeitos podem ser apontados, como a performance decepcionante, 89 Knots mais lento que o Citation e 124 Knots mais lento que o Learjet 31, aeronaves de preço e capacidade similares. O bimotor italiano Piaggio Avanti, de configuração semelhante, oferecia uma capacidade semelhante, mas era bem mais rápido. O Starship tinha algumas característica de voo indesejáveis, como uma clara tendência de fugóide, tendendo a levantar e abaixar o nariz alternadamente em voo nivelado de cruzeiro.
Além disso, a aeronave foi colocada no mercado em uma época de recessão econômica nos Estados Unidos, dificultando ainda mais as vendas.
Em 2003, a Beech decidiu encerrar de uma vez por todas o programa Starship, com um programa de recompra das aeronaves vendidas para desmonte e o cancelamento do suporte técnico, muito caro devido ao pequeno número de aeronaves em operação. A maioria dos operadores privados, no entanto, preferiu continuar operando a aeronave, a despeito da retirada do suporte do fabricante.
As aeronaves construídas e não vendidas, e as poucas recompradas, foram recolhidas ao Pinal Air Park, em Marana, Arizona, despojadas de seus motores, aviônicos e sistemas e queimadas. Algumas foram doadas a Museus, e por volta de 2008 apenas seis Starships ainda constavam como aeronavegáveis no FAA. Nenhuma aeronave foi exportada e três delas voam no Estado do Alabama. A Raytheon, que era a controladora da Beech, ainda mantém um único Starship registrado em seu nome.
O avião que o Starship deveria substituir, o King Air, a despeito de ter sido lançado no mercado há nada menos que 45 anos, ainda continua a ser um sucesso de vendas.
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Moro justamente abaixo da rota de aproximação da cabeceira da pista sul (35L) do aeroporto de congonhas, na cidade de São Bernardo do Campo - SP. Na última semana, por volta do dia 17 de outubro de 2012, pude ver uma aeronave muito semelhante ao Starship One fazendo aproximação. Achei muito curioso, inclusive pensei em filmar mais não houve tempo. Podem confirmar se era mesmo essa a aeronave que avistei aqui?
ResponderExcluirCom certeza não era um Starship, e sim um Piaggio P180 Avanti, um bimotor com configuração bem parecida, de fabricação italiana. Essa aeronave possui a matrícula PT-TIC e é baseada em Congonhas.
ExcluirEu acho que era ela mesmo. Certeza.
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Não era um Starship, e sim um Piaggio P180 Avanti, aeronave de configuração bastante semelhante, e do qual existem dois exemplares no Brasil..
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