Entre os monomotores leves, o Beech Bonanza merece um lugar de destaque, pois é o avião que há mais tempo se mantém em produção e o monomotor de trem retrátil mais produzido na história, com mais de 17 mil exemplares fabricados desde 1945.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, dois monomotores foram lançados no mercado pelos rivais Cessna e Beechcraft, o Cessna 195 e o Beech Bonanza, ambos com estrutura totalmente metálica e incorporando inovações criadas durante a guerra. Mas o Cessna 195 tinha um design anacrônico, com seu motor radial de 7 cilindros e seu trem de pouso convencional, enquanto o Bonanza era um avançado avião com os mais facilmente manejáveis motores de 6 cilindros opostos e trem de pouso triciclo, embora os primeiros exemplares tivessem "bequilha louca" (não dirigíveis).
Desenvolvido por uma equipe de projetistas liderada por Ralf Harmon, o Bonanza pode ser considerado o primeiro moderno monomotor executivo de alta performance, em nítido constraste com as típicas aeronaves de madeira e tela da época. Seu detalhe mais característico era uma empenagem de dois planos em "V", substituindo as empenagens convencionais, cuja finalidade era reduzir o arrasto parasita, embora com o ônus de reduzir a estabilidade direcional. Superfícies de comando de dupla função denominadas "ruddervators" substituíram os lemes e profundores convencionais.
O Beech Model 35 Bonanza executou seu primeiro voo em 22 de dezembro de 1945. Mostrou-se bastante dócil e fácil de voar. Entrou em produção seriada na fábrica da Beech em Wichita, Kansas, em 1947 e logo tornou-se muito popular, embora fosse bastante caro em relação às aeronaves concorrentes.
Uma série de desastres marcou o início da carreira do avião, e foram consequência de falha estrutural na cauda em "V", quando essa era submetida a grandes esforços em turbulência. O FAA - Federal Aviation Administration, emitiu duas AD - Airworthiness Directives (Diretrizes de Aeronavegabilidade), obrigando o reforço estrutural das superfícies da empenagem, das aeronaves fabricadas entre 1947 a 1950.
Uma das maiores críticas ao avião era a instabilidade direcional, especialmente com pilotos inexperientes ou em condição de turbulência. O fabricante introduziu no projeto uma ligação entre os ruddervators e os ailerons por cabos e molas, visando facilitar a pilotagem. Tal ligação permite uma coordenação de comandos com mínima aplicação de pedal, reduzindo a típica osciliação da cauda. As molas permitiam ao piloto aplicar um sobre-esforço no "leme" e até cruzar os comandos, especialmente nas manobras de pouso e decolagem. Mais recentemente, o uso de Yaw Dampers (amortecedores de guinada automáticos) reduziu bastante a instabilidade direcional.
Em 1959, a Beech introduziu o modelo 33 Debonair (foto do N8833M abaixo), praticamente idêntico ao Bonanza, mas com cauda convencional no lugar das empenagens em "V". O Debonair era um modelo de baixo custo e mais simples do Bonanza. Em 1966, o Debonair foi rebatizado Beech E-33 Bonanza, essencialmente o mesmo avião. Uma versão com fuselagem alongada e seis assentos foi criada em 1968, o Model 36, que possuia duas amplas portas de acesso traseiras.
Os modelos 35, com cauda em "V", tiveram sua produção encerrada em 1982, como modelos V-35B e V-35B-TC, esses com motor turbocomprimido. Eram já bem diferentes do modelo original, embora mantivessem praticamente a mesma aparência geral. Tinham motores Continental IO-520 de 285 HP e 6 assentos, uma evolução considerável em relação aos motores Continental C-185, de 185 HP e 4 assentos originais.
Os modelos 33 foram fabricados até 1980, como modelos G-33, e os modelos 36 estão em produção até hoje, como G36 (foto abaixo), agora equipados com motores Continental IO-550, de 300 HP, GPS Garmin e painel Glass Cockpit.
A fuselagem básica do Bonanza 33 foi utilizada em um bimotor, denominado Beech 55 Baron, e a fuselagem do 36 foi usada como base para o Beech 58. Curiosamente, a Beech fabricava um bimotor bem maior denominado Model 50 Twin Bonanza (ver foto do HB-GCE abaixo), mas cujo projeto era totalmente diferente.
Até hoje o Bonanza é considerado o Rolls-Royce dos monomotores, devido às qualidades de construção e de voo, e também devido ao preço elevado. Muitos pilotos preferem os antigos e mais leves modelos 35 e A35 de 4 lugares e 4 janelas laterais às mais potentes versões modernas, considerando aqueles muito mais equilibrados e dóceis.
Os Beech Bonanza são muito populares no Brasil, e foram muito empregados como táxi-aéreo na Colonização do Norte do Paraná. Duas empresas de táxi aéreo, a STAR e a RETA, utilizaram mais de 50 Bonanzas a partir do Aeroporto de Londrina, a partir de 1948/49.
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Muito bom artigo. Como sugestão, acharia bastante interessante os upgrades feitos no Bonanza para o uso de turboélices, da Tradewind e da Turbinair.
ResponderExcluirMuito bom artigo parabéns!
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