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sábado, 11 de julho de 2009

A Rota Polar

Até a metade da década de 1950, o Ártico e a Antártica eram lugares misteriosos e praticamente inexplorados, e nenhuma rota da aviação comercial passava por lá, embora já se soubesse que era o caminho mais curto para várias rotas ligando Europa e Ásia e Américas e Ásia, por exemplo, devido ao fato da Terra ser esférica. Isso pode ser verificado com um simples pedaço de barbante colocado em cima de um globo.
A primeira empresa aérea a explorar comercialmente a rota polar foi a SAS - Scandinavian Airlines System, da Suécia. Em 1954, a SAS inaugurou uma rota ligando a Europa a Costa Oeste dos Estados Unidos via Groenlândia, reduzindo mais de 900 Km o percurso em relação à rota antiga, que passava por New York.

Na década de 1950, a rota polar da Europa para a Ásia era ainda atraente devido ao fato da Rússia bloquear rotas ao norte da Ásia, forçando as companhias aéreas a navegar de Londres a Tokyo, por exemplo, passando pela Índia, vôos que levavam 50 horas naquela época.

O que torna as rotas transpolares tão especiais não são as condições atmosféricas. A meteorologia no Ártico, por exemplo, é bastante estável para uma aeronave voando em cruzeiro. O frio não é muito maior que em outras regiões do globo e praticamente toda a nebulosidade e as turbulências ficam abaixo de 20 mil pés.

Na verdade, a maior dificuldade de se voar nas regiões polares é a dificuldade de se orientar. Para começar, as bússolas não funcionam direito, devido à proximidade do Polo Magnético. Todas as noções de direção que o piloto possuem tornam-se praticamente sem sentido nessa região. No Polo Norte propriamente dito, não existe Norte. Tampouco existem Leste e Oeste, toda direção é Sul, para qualquer lugar do mundo em que se queira ir.

Junte-se essa dificuldade de orientação a uma grande dificuldade de se ter uma noção do tempo: acima do Círculo Polar, o Sol nasce e se põe só uma vez por ano. Como toda direção é Sul, o Sol sempre estará no Sul, e é sempre meio-dia. Também pode ser qualquer hora que se quiser, pois todos os fusos horários se encontram no Polo.

O jornalista Wolfgang Liegewiesche, que participou de um dos vôos de treinamento da SAS na época da introdução dos voos pioneiros sobre a rota polar, entre Fairbanks, no Alaska, e Bodö, na Noruega, fez uma interessante descrição da sua experiência: "A primeira coisa de que perdi noção foi o tempo. Quando decolamos de Fairbanks a tarde já ia avançada e o sol estava baixo do lado do poente. Ali, o sol começou a fazer diabruras. Quando tocou no horizonte, parou; a seguir, durante uma hora mais ou menos como que nos acompanhou, mantendo-se na mesma posição na ponta de nossa asa esquerda. E então subiu! Esse foi o momento mágico do voo. Pois onde o sol nasce é leste e quando o faz é de manhã. Assim, subitamente durante o jantar o oeste havia subitamente se transformado em leste e o entardecer tornara-se em manhã. Não haveria noite".

O problema de navegação existente nas rotas transpolares é, na verdade, uma criação humana. Os meridianos convergem todos no polo e o paralelo 90 graus torna-se um ponto devido a uma mera convenção dos homens. As cartas de navegação polar da SAS adotavam uma convenção diferente, abolindo-se simplesmente o polo e fazendo-se um quadriculado sobre a região polar, com o "norte" da quadrícula voltado para o Oceano Pacífico.
O problema da bússola inoperante foi resolvido de modo simples: não se usa bússola. A SAS utilizava uma espécie de giro direcional aperfeiçoado. Nos giros direcionais normais, a proa tem que ser ajustada a cada 20 minutos, pela indicação da bússola magnética. Como as bússolas não funcionam perto dos polos, precisava-se aumentar esse tempo. O giro-direcional da Bendix, utilizado na SAS, podia manter a precisão por 20 horas, e com certeza é considerado o ancestral dos sistemas de navegação inercial hoje utilizados em todas as aeronaves comerciais.

Atualmente, com o uso de navegação inercial e GPS, os problemas de navegação tornaram-se coisa do passado, e a rota polar é bastante utilizada para voos intercontinentais. Viajar nessa região hoje é confortável e oferece, ainda, a possibilidade de vislumbrar a vastidão do Ártico (ou da Antártica, rota bem menos frequentada) e a extrema beleza das auroras boreais (foto abaixo).
Com o fim da União Soviética e da Guerra Fria, a Rússia finalmente autorizou voos sobrevoando seu território, e as rotas polares finalmente puderam ser aproveitadas em todo o seu potencial, tornando desnecessários os desvios que eram feitos antes de 1990.

Fotos: Yevgeni Pashnin (Aurora Boreal vista do Boeing 747) e Gary Vincent (O Ártico visto de um Boeing 707). - Airliners.net

Mapa: Wikipedia

22 comentários:

  1. Que relato interessante do jornalista... Deve ser uma experiência fantástica! Ainda fico curioso sobre não existirem muitos vôos sobre a Antartida... 'diminuiria' a distância entre a Améria do Sul e Austrália e Ásia.

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    1. Que eu saiba existem 3 rotas, da Argentina, Uruguai e Africa do Sul para Austrália, porém é evitada por conta dos riscos, pois um problema que aconteça sobre o continente antártico não teria um lugar habitado pra um pouso de emergência e provavelmente todas as pessoas a bordo morreriam.

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  2. A cia. australiana Qantas faz a rota transpolar normalmente.

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    1. Ela o faz navegando leste/oeste não norte/sul como deveria ser se houvesse a possibilidade de cruzar a Antártica.

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  3. Deve ser uma experiência fantástica, mas li que aumenta consideravelmente os níveis de radiação nas rotas transpolares. Mesmo assim eu arriscaria para poder ver uma aurora boreal. #givemethisgift_Qantas

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  4. Deve ser uma experiência fantástica, mas li que aumenta consideravelmente os níveis de radiação nas rotas transpolares. Mesmo assim eu arriscaria para poder ver uma aurora boreal. #givemethisgift_Qantas

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  5. e para os terra planistas o que eles pensariam disso tudo,levando emconta que os mesmos acreditam em uma borda de gelo que eles chamas de calotas polares/mas a terra e´esferica na a viaçao esta provado

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    1. Será mesmo amigão? Pesquise sobre todas as rotas aéreas mapeadas e verá que nenhum desses voos realmente SOBREVOAM a Antártida, mas apenas passam pela beirada!

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    2. Tá certo, tá certo!!!...
      Não confrontemos os terraplanistas!
      (O médico deles pediu!)

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    3. terraplanista burro
      ultimo paragrafo, vamos ver se sabe interpretar:
      Com o fim da União Soviética e da Guerra Fria, a Rússia finalmente autorizou voos sobrevoando seu território, e as rotas polares finalmente puderam ser aproveitadas em todo o seu potencial, tornando desnecessários os desvios que eram feitos antes de 1990.

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    4. Burro e você esse vou da Rússia e no polo norte animal

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    5. Que eu saiba existem 3 rotas, da Argentina, Uruguai e Africa do Sul para Austrália, porém é evitada por conta dos riscos, pois um problema que aconteça sobre o continente antártico não teria um lugar habitado pra um pouso de emergência e provavelmente todas as pessoas a bordo morreriam.

      O mais louco é o terra planista falar que os voos passa pela beirada... a pergunta que fica é POR QUÊ??? Se a terra é plana a rota seria mais longa nesse caso... aff

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  6. Apenas um pequeno ajuste. Bodo é na Noruega e não na Suecia embora isto não faça qualquer diferença no relato muito interessante.
    Outro ponto que seria interessante abordar é que o voo polar no inverno (Junho na Antarctica e Dezembro no Ártico) é muito diferente do que no verão e em termos de percepções de noite e dia.

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    1. Mas na matéria acima diz Bodo, Noruega. Preste mais atenção pfvr.

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    2. O artigo foi editado, ele estava certo, e coloquei Bodo, Noruega depois que ele me advertiu do erro. Obrigado.

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  7. Obrigado pela colaboração, Álvaro, o erro já foi reparado. Volte sempre!!!

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  8. Gostei do blog. Parabens!

    Gente, estive lendo as teorias da "Terra Oca", e, dizem eles que o governo dos EUA proibem rotas diretas sobre o Polo Norte a fim de manter em segredo a passagem para o mundo subterrâneo que então se veria nuna rota dessas.

    Alguém saberá dizer se esta proibição procede realmente?

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  9. Tal proibição não existe, e o Polo Norte é sobrevoado com certa frequência por aeronaves civis na rota polar. O polo norte também é visitado por turistas, que vão em um navio quebra-gelo de propulsão nuclear russo. Aliás, o Polo Norte fica no meio do oceano.

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  10. Jonas, você poderia me dizer por favor onde posso encontrar este relato do jornalista Wolfgang Langewieshe’s? Se foi em algum de seus livros ou em reportagem à algum jornal? Estou fazendo o meu TCC do Curso de Ciências Aeronáuticas sobre Radiação nas rolas polares, e gostaria de citar o relato para exemplificar como foi a experiência histórica na introdução desta rota. Agradeço a sua atenção. (E ainda mais, se não for nenhum incomodo, se puder me enviar a resposta por e-mail)
    Um grande abraço, e parabéns pela publicação.

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    1. Foi numa revista Seleções de Reader's Digest de 1959. Vou tentar encontrá-la para confirmar o número e o mês. Vc esqueceu de me enviar o teu email.

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    2. Obrigado, Jonas. Eu achei que por estar logado com a conta do google, o meu e-mail apareceria. Mas é gabrielguimaraesbsa@gmail.com

      Muito obrigado mesmo!

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  11. É muito bom ver que as opiniões são diversas. E também que os opositores são minuria.

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