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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Os pilotos "carniceros" da Bolívia

No aeroporto El Alto, próximo a La Paz, na Bolívia, existe um pátio denominado pelos visitantes americanos de "Corrosion Corner", onde se amontoam velhas aeronaves Curtiss C-46, Convair 440 e Douglas DC-4 e DC-6. Hoje essas aeronaves já não voam mais, mas até há pouco tempo atrás operavam no transporte de carne das fazendas de criação de gado para a capital boliviana.
Os pilotos que operavam essas velhas águias eram chamados de "Carniceros" (açougueiros), e seu negócio era carregar carne in natura para consumo em La Paz. A carne era transportada em grandes pedaços, sem refrigeração ou qualquer preocupação aparente com a higiene.

O transporte por via terrestre encarecia demais o custo da carne, pois as estradas eram precárias e os caminhões ruins. Existiam poucos caminhões frigoríficos e era comum a carne se estragar antes de chegar ao seu destino. Isso tornava o transporte por via aérea um negócio bastante rentável.

Aeronaves há muito tempo desativadas pelo mundo afora continuavam a voar diariamente na Bolívia. Seu estado de conservação as deixavam com um aspecto de abandono, e a manutenção deixava muito a desejar. Sem instrumentos confiáveis, os voos eram feitos somente em condições visuais. Panes de motor eram tão comuns que eram consideradas apenas meros contratempos. Os mecânicos moravam no próprio aeroporto, em casas precárias.

Os velhos Curtiss, DC-4, DC-6, Convair e até alguns veteranos Boeing B-17 serviam nessas missões. Comprados a preço de sucata nos países vizinhos, foram mantidos em condições de voo até que surgiram na concorrência mais caminhões frigoríficos e aeronaves Lockheed C-130 do Exército, com capacidade para até 10 toneladas de carne, que afinal tornaram o negócio inviável, especialmente a partir de meados dos anos 90. Por volta de 1994, somente 4 empresas ainda sobreviviam precariamente: SASA, Quiroga, El Alto e La Cumbre. Até mesmo o grande Frigorifico Reyes já havia fechado as portas.
Os voos eram efetuados sobre a Cordilheira dos Andes, daí a preferência por aeronaves com motor turbocomprimido. Na maioria dos casos, os pilotos sequer usavam oxigênio nas missões, de tão habituados que estavam às grandes altitudes. Afinal, sua base, o Aeroporto El Alto, faz jus ao nome, já que a pista tem 13.323 pés de elevação. Muitas vezes, as asas dos aviões passavam a menos de 200 metros dos picos andinos.
A aeronave mais típica dos carniceros era o Curtiss C-46 Commando, da safra dos anos da Segunda Guerra Mundial. Alguns aviões ainda restam por lá, praticamente no mesmo estado em que voavam. Os B-17 foram comprados por norte-americanos, para serem levados aos EUA para restauração, em vista da sua raridade.
Os voos eram muito perigosos, mas curiosamente ocorreram relativamente poucos acidentes de colisão com as montanhas. A decolagem das pistas curtas e sem pavimentação das fazendas, com 4 ou 5 toneladas de carne e com grande elevação, era a fase mais perigosa desses voos. Um piloto de Curtiss teve uma pane de motor sobre o altiplano, e resolver jogar a carne fora, para aliviar o peso. Pousou em segurança e acabou sendo condecorado.

Fotos:
B-17: Propfreak - Airlines.net
Convair: Peter M. Garwood - Airliners.net
Curtiss C-46: Stefan Sonntag
DC-6B: Giovanni Francisco Rodriguez Bravo

3 comentários:

  1. Lembra vagamente a história do surgimento da Transbrasil.

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  2. Sou piloto de avião , alguém aí pode me indicar algum fazendeiro ou empresa na Bolívia, Paraguai ,peru que esteja contratando ?

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